A maior parte da população da Europa respirava ar poluído no último ano, de acordo com uma análise divulgada nesta quinta-feira, 7, pela empresa pública de radiodifusão alemã Deutsche Welle (DW) em parceria com a Rede Europeia de Jornalismo de Dados. Baseado em informações do Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus (CAMS), o levantamento revelou que 98% europeus viviam em áreas onde a concentração de partículas finas (PM 2,5), potencialmente fatais, superavam os padrões limites da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fonte de preocupação para especialistas em saúde pública, as chamadas partículas finas combinam elementos sólidos e líquidos minúsculos de diferentes materiais e poluentes. A OMS recomenda que os poluentes alcancem, no máximo, cinco microgramas, mil vezes menor que um miligrama, por metro cúbico de ar. Apesar do grau de poluição variar no continente, acredita-se que partes da Europa Central e áreas metropolitanas maiores, como Atenas e Paris, sejam mais atingidas pela contaminação.
“Com os atuais níveis de poluição atmosférica, muitas pessoas [ficarão] doentes. Sabemos que a redução dos níveis de poluição atmosférica reduz estes números”, alertou Mark Nieuwenhuijsen, diretor do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), em depoimento à DW.
Segundo o veículo alemão, as regiões mais poluídas alcançaram concentrações médias anuais de PM 2,5 de cerca de 25 microgramas por metro cúbico, ultrapassando as orientações da entidade de saúde em cinco vezes. A análise oferece resultados inéditos sobre o alastramento da poluição em escala europeia e trata de locais em que estratégias de mitigação melhoraram a qualidade do ar.
O levantamento destaca, então, que duas áreas poluídas apresentam perspectivas distintas: enquanto o norte da Itália mergulha nos padrões de poluição, o sul da Polônia caminha em direção à redução de poluentes, que são invisíveis a olho nu, após a decisão de trocar todos os sistemas de aquecimento doméstico nos próximos 10 anos. As partículas finais são mais e 30 vezes menores do que um fio de cabelo.
Cerca de 14% da Itália superaria em quatro vezes os padrões da OMS, ao passo que Islândia respeita completamente as instruções. As regiões de Lombardia e do Veneto são as mais afetadas. Milão, Pádua e Verona ultrapassaram 75 microgramas por metro cúbico em 2022, de acordo com pesquisadores da Copernicus, programa gerido pela Comissão Europeia. A geografia italiana é parte do problema, já que as montanhas acabam por criar uma espécie de barreira, concentrando os poluentes ao norte do país.
As novas regras europeias em matéria de qualidade do ar permitiriam uma concentração média anual de 10 microgramas de PM 2,5 por metro cúbico de ar. As normas anteriores autorizavam até 20 microgramas. A Comissão do Meio Ambiente do Parlamento Europeu sugeriu, no entanto, que as rígidas recomendações da OMS fossem adotadas.
“Os limites da UE não são apenas [sobre] saúde, mas também sobre argumentos econômicos, [enquanto] os limites da OMS são definidos por especialistas que apenas têm em conta a saúde”, acrescentou Nieuwenhuijsen. “Espero que optem pela OMS, mas provavelmente alguns argumentarão que seria muito caro”.
É verdade, contudo, que países da Europa apresentam níveis mais baixos de poluição quando comparados a outras nações, como a Índia. Cidades como Nova Deli, Varanasi e Agra, por exemplo, extrapolam 100 microgramas por metro cúbico.