O governo do presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira, 8, que a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC) passou a ser considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos. A medida intensifica a pressão contra o regime iraniano, que já afirmou que responderia a retaliações do tipo.
Os parlamentares do país asiático teriam planejado uma legislação que também designa as Forças Armadas dos Estados Unidos como um grupo terrorista, segundo informações da agência estatal iraniana IRNA.
Com o anúncio desta segunda, que pune o Exército ideológico subordinado ao governo Islâmico, a administração de Trump se distancia de governos anteriores, que consideravam o Irã um mero patrocinador do terrorismo.
“Este passo sem precedentes, liderado pelo Departamento de Estado, reconhece a realidade de que o Irã não é apenas um patrocinador do terrorismo e sim que o Exército de Guardiães da Revolução Islâmica ativamente participa, financia e promove o terrorismo como uma ferramenta política”, disse Trump durante um comunicado na Casa Branca. “O IRGC é um meio inicial para o governo iraniano implementar sua campanha de terrorismo global.”
Agora, qualquer país que negocie com o IRGC corre o risco de enfrentar processos na justiça americana, por apoiar e financiar ações terroristas. O governo Trump destacou o pioneirismo da decisão. Segundo eles, é a primeira vez que os Estados Unidos consideram uma parte de um governo estrangeiro uma organização terrorista.
Nos últimos meses, Trump tenta impor “máxima pressão” contra o regime iraniano depois de abandonar o acordo nuclear fechado durante o mandato de seu antecessor, Barack Obama. Antes mesmo dos rumores sobre a possível classificação terrorista da Guarda Revolucionária, mais de 970 entidades e cidadãos iranianos já estavam sancionados pelos Estados Unidos, o que prejudicou ainda mais a economia do país do Oriente Médio.
Os alvos das sanções são empresas de fachada dos bancos Ansar e Ansar Exchange, controlados pela IRGC, no Irã, na Turquia e nos Emirados Árabes Unidos. Juntas, as instituições financeiras movimentaram mais de 1 bilhão de dólares para o regime de Teerã, de acordo com o Tesouro americano.
Os fundos beneficiaram tanto a Guarda Revolucionária quanto o Ministério da Defesa e Logística das Forças Armadas iranianas, acrescentou a pasta americana.
Influência israelense
Entre as autoridades que criticaram a postura americana está o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif. Durante o final de semana, depois que os boatos sobre a iminente designação tomaram força, Zarif relembrou em sua conta no Twitter uma decisão do presidente George W.Bush, em 2002, que considerou as forças quds, um braço da Guarda Revolucionária, como uma organização terrorista.
O ministro ainda afirmou que Trump não deveria deixar a influência do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, “levá-lo para outro desastre dos Estados Unidos.”
O reconhecimento do cunho terrorista do IRGC era uma demanda antiga do líder israelense e o anúncio em Washington foi feito apenas um dia antes das eleições nacionais que são uma prova de fogo para seu poder. Autoridades do governo americano desviaram da polêmica e garantiram que a questão já estava sendo discutida há meses.
Também no final de semana, o general Mohammad Ali Jafari, comandante da Guarda Revolucionária do Irã, já havia alertado que, caso a ameaça se confirmasse, o IRGC cederia ao Exército americano o mesmo status que da ao Estado Islâmico.
“Se os americanos derem este passo em falso, o Exército dos Estados Unidos e as forças de segurança americanas com base no Oriente Médio irão perder seu atual estado de serenidade”, declarou o militar em fala reproduzida pela agência FARS.
Na semana passada, o representante do Departamento de Estado americano para o Irã, Brian Hook, deu sinais das intenções do governo Trump ao culpar o país pela morte de centenas de militares dos Estados Unidos no Iraque.
“O Irã é responsável pela morte de pelo menos 608 membros do serviço americano no Iraque”, afirmou Hook, atribuíndo os dados a relatórios militares. “Isso representa 17% de todas as mortes nas equipes dos Estados Unidos no país entre 2003 e 2011. Esta contagem se soma aos milhares de iraquianos que foram mortos por aliados do IRGC.”
Hook também acusou o Irã de causar outros problemas regionais, apoiando grupos terroristas como o Hezbollah no Líbano, o Hamas em território palestino e a insurgência houthi no Iêmen, onde o Irã se engaja em um conflito com a Arábia Saudita.