Os Estados Unidos comunicaram na última terça-feira à ONU que congelariam quase a metade do total de sua contribuição à agência que atende os refugiados palestinos, 65 milhões de dólares (aproximadamente 209 milhões de reais), informou à Agência EFE um funcionário do alto escalão do governo americano.
O Departamento de Estado americano enviou uma carta à Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) na qual se comprometia em contribuir com 60 milhões de dólares nos próximos dias, mas informava que congelaria 65 milhões adicionais à espera “de uma avaliação futura”.
“É necessário fazer uma reavaliação fundamental da UNRWA, tanto na maneira em que opera como na maneira em que é financiada”, acrescentou o funcionário, que lembrou que os EUA foram o maior contribuidor da agência durante décadas e que nos últimos anos a sua ajuda financeira representou 30% de seu orçamento total.
Os 65 milhões congelados são também quase a metade do total de 125 milhões de dólares (aproximadamente 402 milhões de reais) que os Estados Unidos repassariam à UNRWA em 1º de janeiro deste ano.
Em 2016, segundo os últimos dados divulgados pela ONU, os Estados Unidos contribuíram com 152 milhões (489 milhões de reais) ao programa da agência, 39 milhões de dólares a mais que o segundo maior doador, a União Europeia.
“Como em toda a ONU, não se deveria pedir aos Estados Unidos que sejam responsáveis por uma parte desproporcional destes custos. É hora de outros países, alguns deles bastante ricos, fazerem a sua parte para melhorar a segurança e a estabilidade regional”, argumentou o funcionário do governo americano.
O país prometeu entrar em contato com “todas as partes envolvidas” para debater esse ponto e “examinar reformas nas operações da UNRWA”.
“É tempo de uma mudança. Os Estados Unidos continuam comprometidos em ajudar os mais vulneráveis (…). Se há necessidades adicionais urgentes, pedimos a outros para que façam também a sua parte, não só aos mais de 50 países que contribuíram no passado, mas também a outros que têm os meios e ainda não deram seu apoio”, declarou o funcionário.
A ONU admitiu temer a possibilidade de que os Estados Unidos cortassem seu financiamento a uma agência que considera um “importante fator de estabilidade” na região.
“Estamos muito preocupados”, afirmou o secretário geral da ONU, António Guterres, em uma entrevista coletiva na qual explicou não ter recebido uma comunicação oficial do congelamento de verbas.
Perguntada a respeito, a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, se limitou a dizer que não tinha novas informações a respeito e reiterou que o que o governo americano deseja que “ambos israelenses e palestinos sentem-se à mesa para negociar um acordo de paz”.
Pedido de doação
O chefe da UNRWA pediu nesta quarta-feira doações internacionais, após o congelamento da ajuda americana.
Os palestinos, já irritados com a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de reconhecer em 6 de dezembro Jerusalém como capital de Israel, denunciaram a decisão, que pode aprofundar dificuldades na Faixa de Gaza, onde a UNRWA ajuda grande parte da população de 2 milhões de pessoas.
O comissário-geral da UNRWA, Pierre Kraehenbuehl, disse que irá apelar para outros países doadores por dinheiro e realizar uma “campanha global de financiamento” com objetivo de manter abertas as escolas e clínicas da agência para refugiados durante 2018 e no futuro.
“Está em jogo a dignidade e segurança humana de milhões de refugiados palestinos, em necessidade de assistência alimentar emergencial e outros auxílios na Jordânia, no Líbano, na Síria, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza”, disse em comunicado.
Kraehenbuehl disse que 525 mil meninos e meninas em 700 escolas da UNRWA podem ser afetados pelo corte de financiamento, assim como acesso palestino a cuidados de saúde primários, mas prometeu manter as instalações abertas ao longo de 2018 e no futuro.
A UNRWA começou a funcionar em 1950 e atende mais de 4 milhões de refugiados palestinos nos territórios ocupados por Israel, na Jordânia, na Síria e no Líbano.
(Com EFE e Reuters)