EUA denunciam Assange por conspiração com Chelsea Manning
Preso nesta quinta em Londres, o jornalista é acusado de ter recebido da ex-analista militar a senha de acesso aos computadores do Pentágono
Promotores dos Estados Unidos denunciaram formalmente o fundador do site Wikileaks, Julian Assange, pelo crime de conspiração para invadir um computador com documentos do governo americano, em 2010. O processo foi anunciado poucas horas depois da prisão de Assange em Londres, nesta quinta-feira, 11, dentro da embaixada equatoriana no Reino Unido.
Para acessar os arquivos secretos, o jornalista australiano teria contado com a ajuda da ex-analista de inteligência do Exército dos Estados Unidos Chelsea Manning, considerada a primeira grande fonte do Wikileaks, que vazava informações confidenciais de autoridades do país.
Segundo o Departamento de Justiça americano, em 10 de março de 2010, Manning, uma mulher transgênero que na época atuava no serviço militar ainda como homem, compartilhou com Assange parte de uma senha, guardada nos computadores do Pentágono, que permitia acesso à rede interna da entidade militar.
Manning está presa deste o último dia 8 de março, depois que se recusou a prestar depoimento diante de um juiz federal dos Estados Unidos sobre a divulgação dos segredos federais. Na ocasião, ela foi intimada a depor contra Assange.
Ela já foi presa e condenada em 2013 a 35 anos de prisão por violação da Lei de Espionagem americana e passou sete anos na cadeia, até ser indultada em 2017 pelo então presidente Barack Obama.
No dia 23 de janeiro, a defesa de Assange informou que tinha apresentado uma “solicitação urgente” diante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com sede em Washington, para que ordenasse que os Estados Unidos revelassem as acusações apresentadas em sigilo contra seu cliente e Manning.
Foragido
O processo descrito no pronunciamento de hoje não inclui nenhuma acusação relacionada a espionagem contra o jornalista, um detalhe significativo para advogados da liberdade de imprensa, já que até o ano passado o governo americano estudava a possibilidade de indiciá-lo como um possível espião.
Assange foi preso nesta quinta pela polícia britânica, por ordem do governo americano, dentro da embaixada do Equador em Londres, depois que os equatorianos resolveram suspender o asilo diplomático concedido em 2012.
A Justiça do Reino Unido se afastou das acusações políticas e declarou que o australiano foi preso por violar as condições de fiança estabelecidas em uma outra acusação, de 2012. Na ocasião, ele foi detido por autoridades britânicas pelas denúncias de estupro de duas mulheres na Suécia.
Ao garantir a liberdade condicional, o jornalista se refugiou na embaixada equatoriana por temer ser extraditado para os Estados Unidos por seu vazamento de informações. A iniciativa quebrou as leis locais e um juiz expediu a ordem para que ele se entregasse novamente em 29 de junho daquele ano, mandado que ele nunca cumpriu.
Além disso, a polícia britânica também considerou um pedido de extradição impetrado pelos Estados Unidos em dezembro de 2017. Ainda na manhã desta quinta, o governo americano voltou a pedir para que o australiano seja enviado para julgamento no país.
“O fundador do Wikileaks está detido em nome das autoridades dos Estados Unidos e em virtude da Seção 73 da Lei de Extradição. (Ele) está em custódia policial e vai depor à Corte de Magistrados de Westminster (Londres) o mais rápido possível”, afirmou um porta-voz da polícia britânica.
Depois de resistir à prisão na embaixada, Assange foi transportado para a Corte de Westminster, onde foi considerado culpado de não se entregar às autoridades. Segundo o juiz distrital, Michael Snow, o comportamento do jornalista “é de um narcisista que não pode superar seus próprios interesses egoístas.”
Ele será sentenciado no próximo mês pela Corte da Coroa britânica, onde os promotores trabalharão em nome do governo americano, e pode ser condenado a até 5 anos de prisão, segundo informações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
O jornal britânico The Guardian divulgou o depoimento de uma das mulheres que acusou Assange de estupro, caso arquivado pelos promotores suecos em 2017. Com a identidade sob sigilo, ela declarou que é contra a extradição do acusado.
“Eu ficaria muito surpresa e triste se o Julian fosse entregue aos Estados Unidos. Para mim, o problema não é sobre nada além da sua postura errada em relação a mim e outras mulheres e sua negação em assumir responsabilidade por seus atos”, disse a vítima.
No ano de 2010, o Wikileaks divulgou mais de 90.000 documentos confidenciais relacionados a ações militares de Washington no Afeganistão e cerca de 400.000 documentos secretos sobre a guerra no Iraque, em um dos maiores vazamentos de dados secretos da história.
(com Reuters)