Oficiais americanos definiram as bases para um acordo de paz com membros do Talibã, informou nesta segunda-feira, 28, o enviado dos Estados Unidos ao país, Zalmay Khalilzad, ao jornal The New York Times.
Segundo o Times, o entendimento ainda tem que ser concretizado antes de se tornar um acordo oficial, mas prevê o comprometimento do Talibã em garantir que o território afegão não seja usado como “plataforma para indivíduos ou grupos terroristas internacionais”.
O pacto também poderia levar a uma retirada completa das tropas americanas do Afeganistão, de acordo com o jornal.
Ainda segundo Khalilzad, as concessões incluem um completo cessar-fogo por parte do Talibã e o comprometimento do grupo com um diálogo direto com as autoridades afegãs.
No sábado 26, o enviado americano já havia informado sobre “progressos significativos” feitos durante longas conversas com o Talibã no Qatar. Khalilzad disse ter confiança na minuta firmada pelas partes, mas ressaltou que ainda é preciso negociar detalhes do acordo.
Após seis dias de conversas com a delegação política dos talibãs em Doha, o enviado de paz viajou no sábado para Cabul, onde informou o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, sobre os avanços realizados no encontro.
A delegação americana, segundo o enviado especial, voltará a se reunir com os talibãs para discutir a participação do governo do Afeganistão nas negociações.
Direitos do povo afegão
Após as notícias de que um primeiro entendimento foi alcançado pelas duas partes, Ashraf Ghani garantiu que os direitos de seu povo não serão comprometidos em nome da paz com o Talibã.
“Nosso compromisso é fornecer paz e evitar qualquer possível desastre”, disse. “Existem valores que não são discutíveis, como unidade nacional, soberania nacional e integridade territorial”, alertou.
Ghani e Khalilzad se encontraram no final de domingo, 27, em Cabul. Os dois discutiram um possível cessar-fogo, mas não foram revelados mais detalhes sobre o encontro.
“Há muitos rumores de que discutimos um governo interino. Não, não entramos nesta discussão”, explicou o representante do governo dos EUA. “Nosso objetivo é que talibãs e governo afegão voltem à mesa de negociação para conversar diretamente”, acrescentou.
As negociações no Qatar se estenderam por seis dias. A duração do diálogo, inédita segundo os analistas, provoca esperanças de um acordo que abra o caminho para negociações de paz propriamente ditas.
Apesar de tudo, as autoridades afegãs lamentam que o Talibã tenha excluído o governo do diálogo. Um acordo não será possível sem a aprovação de Cabul.
Desde o fim da missão de combate da Otan, em janeiro de 2015, o governo afegão foi perdendo terreno diante dos insurgentes talibãs e controla apenas 56% do país, segundo dados da Inspeção Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão (SIGAR) do Congresso dos Estados Unidos.
No fim de dezembro, o presidente Donald Trump anunciou a intenção de retirar grande parte dos 14.000 militares americanos que ainda estão no Afeganistão.
A retirada seria um primeiro passo no cumprimento de uma promessa feita ainda na campanha. Trump prometeu reduzir ao máximo a presença militar americana no exterior, apesar de muitos especialistas alertarem para o aumento da violência no Afeganistão.
A guerra no Afeganistão, a mais longa da história dos Estados Unidos, deixou 2.419 soldados americanos mortos. A Casa Branca já gastou mais de 900 bilhões de dólares no conflito.