EUA: Juiz da Suprema Corte zomba de príncipe Harry, Macron e Trudeau
Os líderes estrangeiros, junto a muitos outros, fizeram críticas à decisão do tribunal dos EUA sobre aborto – que o juiz Samuel Alito rejeitou com piadas
O juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Samuel Alito, zombou de figuras proeminentes em todo o mundo que criticaram a decisão do tribunal, no mês passado, que revogou uma decisão histórica que garantia o direito ao aborto no país – famosa “Roe vs. Wade”.
Em seus primeiros comentários públicos desde a decisão, em um discurso não divulgado feito no dia 21 e julho, em uma conferência sobre liberdade religiosa em Roma, não poupou nenhum nome. Alito rejeitou as críticas ao tribunal, cujo posicionamento levou vários estados conservadores americanos a impor proibições ao aborto, vindas do ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson, do presidente francês Emmanuel Macron e do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau.
Alito, juiz conservador autor do argumento que derrubou Roe vs. Wade, alvejou com palavras o príncipe Harry, que fez referência à decisão do aborto em um discurso nas Nações Unidas na semana passada.
Depois de uma semana, o vídeo do discurso de Alito foi postado online na quinta-feira 28 pela Universidade de Notre Dame, que organizou o evento.
“Tive a honra de escrever esta decisão. Mas acho que a única decisão da Suprema Corte na história dessa instituição que foi criticada por uma série de líderes estrangeiros, que se sentiram perfeitamente bem comentando sobre a lei americana”, disse Alito.
“Um deles foi Boris Johnson, mas ele pagou o preço”, brincou Alito, referindo-se à renúncia de Johnson após uma onda de demissões em seu gabinete, como forma de protesto à sua liderança do partido conservador britânico.
As referências de Alito à decisão do aborto, durante um discurso sobre a importância da liberdade religiosa, foram recebidas com risos pela plateia.
“Mas o que realmente me feriu – o que realmente me feriu – foi quando o duque de Sussex [o príncipe Harry] se dirigiu às Nações Unidas e pareceu comparar a decisão que não deve ser nomeada com o ataque russo à Ucrânia”, acrescentou Alito em tom sarcástico, referindo-se à anulação de Roe vs. Wade, que em 1973 legalizou o aborto nos Estados Unidos.
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O príncipe Harry falou de 2022 como “um ano doloroso em uma década dolorosa” durante um discurso em 18 de julho, antes de citar a guerra na Ucrânia e “o retrocesso dos direitos constitucionais aqui nos Estados Unidos”, que parecia fazer referência à queda do direito constitucional ao aborto.
Enquanto isso, o ex-premiê Johnson chamou a decisão de “um grande retrocesso”.
No dia que a Suprema Corte publicou a anulação de Roe vs. Wade, o presidente francês, Macron, disse o aborto era um direito fundamental e que as liberdades das mulheres foram “comprometidas” pela Suprema Corte. O canadense Trudeau chamou a decisão de “horrível”.
Elena Kagan, uma juíza liberal da Suprema Corte americana, afirmou (também em 21 de julho, mas em um evento diferente do de Alito) que “seria perigoso para a democracia” se a Suprema Corte de maioria conservadora perdesse a confiança do público americano.
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O tribunal, o principal órgão judicial dos Estados Unidos, atualmente tem uma maioria conservadora de 6 a 3, que tem exercido descaradamente seu poder em diversos casos recentes – desde o aborto, até decisões sobre clima, liberdade religiosa e direitos eleitorais.
Pesquisas de opinião mostraram uma queda na aprovação pública do tribunal após a decisão do aborto: a confiança na corte atingiu uma baixa histórica de 25%, depois de cair 11 pontos percentuais só neste ano.