EUA não descartam ação militar contra Turquia na Síria
O secretário de Estado, Mike Pompeo, reiterou, no entanto, a intenção de continuar com a pressão diplomática e econômica contra Ancara
Em entrevista à emissora de televisão CNBC, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que, além da imposição de sanções econômicas, os Estados Unidos não descartam ações militares contra a Turquia dentro da Síria.
Pompeo disse que Washington prefere “paz do que guerra”. Logo em seguida, afirmou: “Mas caso seja necessária a ação militar, o presidente (Donald) Trump está totalmente preparado em tomar a iniciativa”.
A declaração ocorre em meio a nova crise humanitária instaurada na Síria após a decisão tomada pelo governo americano no domingo 6 de retirar suas tropas que estavam estacionadas no norte do país, dando sinal verde para uma ação militar turca na região.
Há duas semanas, as Forças Democrático Sírias (SDF) — grupo composto por diversas milícias armadas, como a Unidade de Proteção Popular (YPG) e a Unidade de Proteção das Mulheres (YPJ) —, antes aliado e agora abandonado pelos Estados Unidos, luta contra o Exército da Turquia e rebeldes sírios. Na sexta 18, chegaram a um acordo de cessar-fogo costurado pelos americanos. Os embates já deixaram mais de 700 militantes curdos e 120 civis mortos, segundo autoridades do YPG e do Observatório Sírio de direitos humanos, entidade baseada no Reino Unido.
Pompeo não especificou na entrevista qual seria a linha vermelha que a Turquia precisaria ultrapassar para Washington autorizar uma ação militar contra um aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e reiterou que a posição da Presidência é a de continuar com a pressão diplomática e econômica contra Ancara.
Na terça-fera 14, o secretário de secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, anunciou sanções econômicas contra funcionários públicos e militares turcos. Uma vez que Ancara não parou com as hostilidades contra os curdos, Washington decidiu enviar o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, à Turquia para negociar um cessar-fogo com o presidente turco, Recep Erdogan.
O acordo para colocar fim às hostilidades em Rojava — nome dado à região no norte da Síria desde 2012, quando fora proclamada como autônoma pelos curdos — estipula a retirada total do YPG de cidades na fronteira até terça-feira, 22, e o estabelecimento de uma “zona de segurança” de até 32 quilômetros de extensão dentro de território sírio sendo administrada pela Turquia.
Inicialmente, o plano de Erdogan era o de criar uma faixa territorial de 100 quilômetros a partir da fronteira da Turquia com a Síria para reassentar cerca de três milhões de refugiados que se encontram dentro de seu país, ao mesmo passo que afasta os grupos armados curdos de território turco.
Mas o cessar-fogo não foi bem visto na opinião pública americana, apesar de parcialmente acatado pelos curdos. Sociedade civil e políticos, tanto democratas quanto republicanos, criticaram Trump pelo abandono dos curdos. Alguns críticos dizem que o presidente deu aval para uma “limpeza étnica” promovida por Ancara.
O YPG foi a principal força terrestre a lutar contra o Estado Islâmico (EI) na guerra civil da Síria e foram os responsáveis por reconquistar a cidade de Raqqa, antes conhecida como a capital do Estado Islâmico. Agora, sem apoio dos Estados Unidos, procuram por apoio do ditador sírio, Bashar Assad. O YPG já retirou suas tropas da cidade de Ras Ayn, batizada como Serêkanyê pelos curdos, que fora o palco dos combates mais intensos desde o início do avanço militar da Turquia. Há relatos de uso de armas químicas pelo Exército turco contra a população civil no local.
Trump, apesar de sofrer duras críticas em casa, cumpre uma de suas promessas de campanha. Desde que assumiu a Presidência, o americano vem retirando gradualmente as tropas do Oriente Médio e Ásia, ao mesmo tempo em que aumenta o contingente de soldados em países aliados, como a Arábia Saudita.