A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou nesta quarta-feira, 15, em entrevista ao Süddeutsche Zeitung, que a Europa deve se reposicionar para enfrentar seus maiores rivais globais: China, Rússia e Estados Unidos.
“Não há dúvida de que a Europa precisa se reposicionar em um mundo que mudou”, disse ao jornal. “As velhas certezas da ordem do pós-guerra não se aplicam mais. ”
A chanceler, que se prepara para deixar o cargo em 2021, afirmou ainda que os países da Europa precisam construir uma frente unida para enfrentar os desafios criados pelas tentativas russas de interferir em eleições, a influência econômica chinesa e o monopólio americano sob os serviços digitais.
‘Relação conflituosa’
Ao ser questionada sobre o presidente francês Emmanuel Macron, Angela Merkel admitiu ter um “relacionamento conflituoso” com o líder vizinho.
“É claro que temos um relacionamento conflituoso”, respondeu a chanceler alemã, explicando que “há diferenças de mentalidade” entre ela e Macron, assim como na forma em que os dois entendem seu papel político.
Questionada se as relações entre ambos se deterioraram nos últimos meses, Merkel rejeitou firmemente: “Não, de maneira nenhuma”
Ao lado da França, a Alemanha se tornou um dos maiores defensores de um exército europeu comum, que tornaria o bloco menos dependente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Ao mesmo tempo, os líderes das duas nações têm entrado em choque sobre uma série de outras questões, como o congelamento de vendas de armas para a Arábia Saudita, decidido pela Alemanha após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, o futuro da União Europeia ou sobre os sucessivos adiamentos do prazo concedido ao Reino Unido para o Brexit.
A chanceler, no entanto, destacou na entrevista o “enorme progresso” que foi alcançado na área da defesa, sobre a qual franceses e alemães têm demonstrado posições aproximadas e apresentado programas de desenvolvimento militar comuns.
“Decidimos desenvolver um caça e um tanque juntos. (…) É um sinal de confiança contarmos uns com os outros em política de defesa”, afirmou Merkel.
Extrema-direita e populismo
Na semana que vem, os eleitores do continente vão às urnas para escolher a nova composição do Parlamento Europeu. O partido de Merkel, União Democrata-Cristã (CDU), pode enfrentar perdas significativas na votação.
Ela continua, contudo, popular entre os alemães, segundo pesquisas recentes. Merkel anunciou no ano passado que deixaria o cargo de líder da CDU em 2018, mas decidiu manter a posição de chanceler até as próximas eleições federais, marcadas para outubro de 2021.
A campanha para as eleições do Parlamento Europeu tem sido marcada pelo crescimento de partidos populistas e de extrema-direita. Na entrevista desta quarta ao Süddeutsche Zeitung, Merkel também criticou a tendência das nações do bloco em seguirem o caminho dessa ideologia.
“Muitas pessoas estão preocupadas com a Europa, incluindo eu”, disse. “Isso significa que eu me sinto ainda mais comprometida a me unir aos demais para garantir que a Europa tenha um futuro”.
“Esta é uma época em que realmente precisamos lutar por nossos princípios e valores fundamentais”, afirmou. “Os chefes de Estado e de governo decidirão até que ponto deixarão o populismo crescer ou se, em última instância, estaremos dispostos a assumir nossa responsabilidade conjunta”.
A chanceler abordou ainda os desafios da Europa para manter sua política ambiental. Segundo Merkel, sua “maior preocupação” é gerar riqueza econômica suficiente para enfrentar a crise atual.
Ela reiterou ainda seus objetivos de reduzir drasticamente as emissões de gases causadores do efeito estufa na Alemanha, de modo a atingir até 2050 a chamada “neutralidade climática”. Segundo ela, esse é um “desafio tremendo”.