Fala de Lula sobre Israel surgiu de ‘profunda indignação’, diz Vieira
Chanceler falou a membros da Comissão de Relações Exteriores do Senado

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse à Comissão de Relações Exteriores do Senado, nesta quinta-feira, 14, que as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o conflito entre Israel e o Hamas surgiram de “profunda indignação”. A fala do petista, que comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, provocou amplo mal-estar na relação entre Brasília e Tel Aviv.
“A questão que se impõe é quantas vidas mais serão perdidas até que todos atuem para impedir o morticínio em curso”, disse Vieira à comissão. “É nesse contexto de profunda indignação que se inserem as declarações do presidente Lula. “São palavras que expressam a sinceridade de quem busca preservar e valorizar o valor supremo da vida humana.”
Durante sua fala, após indagação do presidente da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), Vieira citou bloqueios feitos por Israel a suprimentos de ajuda humanitária entregues por diversos países, incluindo o Brasil, que enviou purificadores de água portáteis.
“A estimativa é de que mais de 15 mil toneladas de suprimentos de ajuda humanitária internacional ainda aguardariam aprovação israelense para entrar em Gaza, sendo mais da metade alimentos. Sem sombra de dúvidas, o bloqueio à ajuda humanitária consiste em uma violação do direito internacional”, acrescentou o chanceler.
Ainda assim, a posição do Brasil “tem sido e continuará sendo a favor do diálogo e negociações que conduzam uma solução dos dois Estados”.
Crise diplomática
Em resposta à fala de Lula, na comparação com o Holocausto, o governo israelense declarou o presidente persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma reprimenda. Depois disso, o governo Lula chamou Meyer de volta ao Brasil, como adiantou o Itamaraty a VEJA, e também anunciou que convocou Zonshine para comparecer a uma reunião com o chanceler Mauro Vieira.
Foi quando o chanceler israelense, Israel Katz, deu início a uma campanha de críticas no X, antigo Twitter, classificando primeiro a fala de Lula como “promíscua, delirante”, além de “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”. Ele também convidou uma sobrevivente brasileira da rave Universo Paralello, onde 260 pessoas foram mortas por combatentes do grupo palestino Hamas em 7 de outubro, para dar depoimento em longo vídeo. “Me entristece muito saber que o país onde eu nasci, o país onde eu chamo de casa se encontra nessa situação. Numa situação que o governo compara as atitudes de Israel com o Holocausto”, disse a israelense-brasileira Rafaela Triestman.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, devolveu: disse que os comentários de Katz foram “inaceitáveis”, “mentirosos” e “vergonhosos para a história diplomática de Israel”.