Uma segunda onda de protestos parou novamente o transporte público e interrompeu o funcionamento de escolas e a produção de energia elétrica na França nesta terça-feira, 31. Grevistas estão indo às ruas em manifestações contra o projeto do governo de aumentar a idade de aposentadoria para grande parte dos trabalhadores.
O sistema de trens de Paris foi profundamente afetado pela greve, com apenas um terço em funcionamento. No metrô, que também teve algumas operações paralisadas, franceses se espremiam para entrar dentro dos poucos comboios em circulação.
Manifestantes esperam repetir o grande comparecimento do primeiro dia nacional do protesto, quando mais de um milhão de pessoas foram às ruas em toda a França. No dia 19 de janeiro, os protestos ocorreram nas principais cidades do país, incluindo Paris, que precisou fechar a Torre Eiffel, e as paralisações foram registradas no transporte público, aeroportos, escolas e empresas.
+ Os desafios do governo francês para acelerar a reforma da Previdência
Os protestos também estão contando com o apoio de professores e estudantes. Metade dos professores primários aderiu ao movimento e, no centro de Paris, estudantes bloquearam uma escola enquanto protestavam em apoio aos trabalhadores com cartazes com os dizeres “Juventude furiosa”.
Nas ruas, as manifestações dividem opiniões entre os franceses. “Eu os apoio”, disse Catherine, de 59 anos, assistente de um advogado, em entrevista à Reuters. A mulher relatou que não se importava em caminhar ou esperar o trem porque “em breve terei 60 anos, então não estou realmente feliz por ter (para trabalhar) mais dois anos”.
Já Matthieu Jacquot, de 34 anos, trabalhador do setor de luxo, acredita que a greve não vai mudar a situação do país. “Não adianta entrar em greve. Este projeto de lei será aprovado de qualquer maneira”, comentou em entrevista à Reuters.
Mesmo existindo aqueles com opiniões contrárias, trabalhadores de diversos setores continuam aderindo aos protestos. Funcionários de emissoras públicas passaram a tocar música em vez de noticiários. Além disso, segundo o sindicalista Eric Sellini, entre 75% e 100% dos trabalhadores das refinarias de petróleo da TotalEnergies estão em greve, causando uma redução de 4,5% do fornecimento de energia na França.
Os sindicatos que organizam a greve afirmam que a reforma é “brutal” para os trabalhadores e que existem outras maneiras de aumentar a receita, como tributar os super-ricos ou pedir aos empregadores ou pensionistas abastados que contribuam mais. “Esta reforma é injusta e brutal”, disse Luc Farre, secretário-geral do sindicato dos funcionários públicos, à Reuters. “Mudar (a idade de aposentadoria) para 64 anos é retroceder socialmente.”
A reforma de Macron
Emmanuel Macron, presidente francês, depois de seis anos no poder, está tentando implementar a sua medida mais ousada: a reforma previdenciária. Os planos do governo aumentam a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos e também atrasam a idade de elegibilidade para uma pensão completa.
De acordo com o Ministério do Trabalho francês, essas medidas vão ser capazes de render 17,7 bilhões de euros adicionais nas contribuições anuais para pensões. Porém, as pesquisas de opinião mostram que a maioria dos franceses, que já não estão satisfeitos com a crise do custo de vida e a alta inflação, se opõe à medida.
Para Macron, que se mantém firme na implementação da reforma, o reajuste vai salvar o sistema previdenciário e é necessário para combater o déficit nos fundos de pensão. Segundo a primeira-ministra Elisabeth Borne, a mudança de idade de aposentadoria para 64 anos é “inegociável”, mas o governo está buscando maneiras de compensar parte do impacto, em particular nas mulheres.