Fronteira venezuelana amanhece fechada após ordens de Maduro
Venezuelanos não podem atravessar a região a pé e nem de carro; rotas alternativas usadas para burlar bloqueio também foram cortadas por militares
Cumprindo determinação do presidente Nicolás Maduro, a fronteira venezuelana com o Brasil está fechada desde a noite de quinta-feira 21. Venezuelanos não podem atravessar a divisa a pé e nem de carro.
Mais cedo, alguns grupos usavam rotas alternativas, muito próximas da fronteira oficial, para chegar a Pacaraima (RR). Os pedestres passavam por uma região há alguns metros do posto oficial de controle, segundo a GloboNews. Já durante a manhã, contudo, militares venezuelanos passaram a travar esse acesso também.
O bloqueio do trecho da rodovia que liga os dois países na região de Pacaraima nesta manhã oficializa a retaliação de Maduro ao governo brasileiro. Do lado brasileiro, o trânsito é liberado, mas quem tenta entrar na Venezuela não consegue autorização de militares do país vizinho. O governo chavista também enviou blindados à região para evitar a entrada de ajuda humanitária
Habitualmente, a fronteira é fechada para carros todos os dias à noite, para ser reaberta às 6h. Já na noite da quinta-feira, porém, guardas venezuelanos alertaram que quem ultrapassasse a linha divisória entre os países não poderia retornar por tempo indeterminado. A medida foi confirmada com a não reabertura no horário rotineiro.
A bandeira da Venezuela, que normalmente é hasteada pela manhã na fronteira, também não foi erguida pelos oficiais venezuelanos. A barreira brasileira foi reaberta normalmente.
Na quinta-feira 21, Nicolás Maduro declarou que fecharia a fronteira, em resposta à operação de ajuda humanitária do governo brasileiro aos venezuelanos, através de Roraima. O espaço aéreo entre os países também foi suspenso, por determinação do Instituto Nacional de Aeronáutica Civil.
Autoproclamado presidente da Venezuela – e reconhecido assim pelo Brasil – o líder do parlamento Juan Guaidó emitiu um “decreto” divulgado em redes sociais no qual ordenava a abertura da fronteira com o Brasil. O Exército, porém, seguiu as recomendações de Maduro.
Na quarta-feira 20, a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) deslocara militares e blindados para Santa Helena de Uairén, a 15 quilômetros de Pacaraima. Caminhões carregando tanques passaram diante da fronteira com o Brasil, conforme postou no Twitter o deputado oposicionista Américo De Grazia.
Diante da incerteza em relação ao fechamento da fronteira, na tarde de quinta-feira muitos venezuelanos atravessaram para Pacaraima para se abastecer de produtos básicos. As lojas da cidade ficaram lotadas de cidadãos buscando alimentos, produtos de higiene básica e medicamentos.
Na terça-feira 19, o Palácio do Planalto anunciara o deslocamento de ajuda humanitária brasileira para Pacaraima (RR), de onde seria conduzida em caminhões dirigidos por cidadãos venezuelanos ao país vizinho. Na ocasião, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, não confirmou se os Estados Unidos poderiam se valer da fronteira em Roraima para enviar sua ajuda aos venezuelanos.
Uma comissão interministerial liderada pelo Itamaraty foi responsabilizada pela operação. O anúncio do governo brasileiro deu-se quase simultaneamente à declaração da FANB de que estará “alerta” para evitar a violação do território venezuelano, com o ingresso de ajuda humanitária.
Nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro reuniu-se com os ministros Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, Onix Lorenzoni, da Casa Civil, e Santos Cruz, da secretaria de Governo, para discutir a questão da Venezuela. segundo Rêgo Barros, o presidente fez contatos com o Itamaraty, que está coordenado o grupo interministerial de envio da ajuda humanitária.
Jair Bolsonaro indicou seu vice-presidente, Hamilton Mourão, como seu representante na reunião do Grupo de Lima no próximo dia 25 em Bogotá, Colômbia. A escolha gerou rumores sobre o esvaziamento promovido pelo Palácio do Planalto ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que vinha assumindo essa responsabilidade.
Incertezas e desabastecimento
Com a fronteira fechada, o agronegócio e abastecimento de energia e combustíveis na região Roraima deve ser prejudicado, alertou o governador do estado, Antonio Denarium. Segundo ele, o estado depende da compra de energia elétrica do país vizinho porque não está interligado ao sistema elétrico nacional.
“Nós somos importadores de fertilizantes e de calcário da Venezuela e pode atrapalhar abastecimento para nosso próximo plantio, que se inicia nos meses de maio e junho. Roraima é um exportador de alimentos para a Venezuela. Isso também pode comprometer o faturamento das empresas até o fechamento de algumas empresas”, afirmou nesta quinta.
De acordo com o governador, a confirmação do bloqueio também poderá causar o desbastamento de combustíveis no município de Pacaraima, já que não há postos de combustíveis na cidade, e a população atravessa a fronteira para comprar gasolina.
Ainda segundo o governador, Roraima recebe energia elétrica do país vizinho por não fazer parte do sistema nacional de transmissão. Segundo ele, o governo federal gasta cerca de 1 bilhão de reais por ano para gerar energia por meio de usinas termelétricas.
Em uma medida para evitar possível corte de fornecimento pelo governo de Nicolás Maduro, Antônio Denaruim informou que pediu ao governo federal a contratação de energia extra para evitar um possível desabastecimento.