O 43º presidente dos Estados Unidos segurou até onde pôde em seu discurso tocante de despedida a seu pai, George Herbert Walker Bush, o 41º presidente do país, na Catedral Nacional de Washington. O homem que levou a América para as guerras no Iraque e no Afeganistão, na década passada, engasgou no púlpito nesta quarta-feira, 5, e com dificuldade conseguiu finalizar sua homenagem.
“Na última sexta-feira, quando me disseram que ele tinha poucos minutos de vida, eu liguei para ele. (…) Disse: Papai, eu amo você, e você tem sido um pai maravilhoso. E as últimas palavras que ele disse na terra foram: ‘eu amo você também'”, relatou George W. Bush, o “Bush filho”. “Foi o melhor pai que um filho ou filha poderia ter”, completou, para em seguida desmontar-se em lágrimas.
O funeral de Estado a George H. W. Bush, nesta quarta-feira, 5, foi marcado pela presença de vários chefes de governo e de políticos e ex-autoridades republicanos e democratas. Com uma cerimônia solene na catedral católica, os Estados Unidos deram adeus a um herói da Segunda Guerra Mundial, veterano da Guerra Fria e ex-diretor da CIA que se elegeu em 1988.
O 41º presidente americano, “Bush pai”, morreu na semana passada, no Texas, com 94 anos. “George H.W. Bush foi o último grande soldado estadista da América”, disse Jon Meacham, biógrafo presidencial, em discurso. “Ele se posicionou na ruptura da Guerra Fria contra o totalitarismo. Ele se posicionou na ruptura em Washington contra o partidarismo irracional”, completou.
Considerado uma figura aristocrática que representou uma era de civilidade hoje inexistente na política americana, “Bush pai” governou de 1989 a 1993, mas não foi reeleito. Surpreendentemente, tornou-se grande amigo do concorrente democrata nas urnas de 1993, Bill Clinton.
“Ele teve uma enorme capacidade de se doar. Muitas pessoas diriam que o papai se tornou mentor e figura paterna em suas vidas. Ele as ouvia e as consolava. Ele foi amigo delas. Eu penso em Don Rhodes, Taylor Blanton, Jim Nantez, Arnold Schwarzenegger e, talvez o mais surpreendente de todos, o homem que o derrotou, Bill Clinton”, relatou George W. Bush.
Doce
Sua reputação de moderação e cordialidade tem sido relembrada nos últimos anos, em vista da polarização e da agressividade surgidas no país desde a ascensão de Donald Trump à Casa Branca.
De Trump, o 45º presidente dos Estados Unidos, veio a desfeita que chamou atenção durante a cerimônia fúnebre na catedral. Ao ingressar no templo, ao lado da primeira-dama Melania, o atual presidente cumprimentou o casal Barack e Michelle Obama, sentado a seu lado, com apertos de mãos. Mas omitiu qualquer sinal de saudação a Bill e Hillary Clinton e a Jimmy e Rosalynn Carter, embora todos estivessem sentados na mesma primeira fila.
Ex-secretária de Estado democrata, Hillary Clinton foi quem recebera o voto do republicano George H. W. Bush na eleição de 2016, conforme ele mesmo confessou a um biógrafo. Trump enfurecera o 41º presidente dos Estados Unidos quando, nas primárias republicanas de 2016, atacara seus filhos George W. e Jeb Bush, ex-governador da Flórida.
Pela manhã, Trump publicara uma mensagem pouco usual para um dia de funeral de Estado. “Estou na expectativa para me encontrar com a família Bush. Isto não é um funeral, é um dia de celebração por um grande homem que viveu uma vida longa e distinta. Ele fará falta!”, expressou-se pelo Twitter.
Bush filho, ao contrário, cumprimentou todos os ex-presidentes e ex-primeiras-damas ao ingressar na catedral. A Michelle Obama, repetiu um gesto que fizera no funeral do senador John McCain, em setembro passado: entregou-lhe um doce.
Centenas de pessoas se enfileiraram na manhã desta quarta-feira na Avenida Pensilvânia, no centro de Washington, para ver o carro funerário levar o corpo de George H. W. Bush do Capitólio, onde se deu o velório público desde a noite de segunda-feira 3, à Catedral Nacional.
Dentro do templo, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o príncipe Charles, da Inglaterra, prestaram suas homenagens. Pelo menos outros nove líderes atuais e do passado estiveram presentes, entre os quais o rei da Jordânia, Abdullah II, o ex-emir do Catar, Hamad bin Khalifa al Zani, e os ex-presidentes do México, Carlos Salinas, e de Portugal, Aníbal Cavaco Silva.
O féretro seguirá ainda nesta quarta-feira para o Texas, onde o corpo de George H. W. Bush será enterrado ao lado de sua esposa, Barbara, na Biblioteca e Museu Presidencial George Bush.
(Com Reuters e EFE)