Governo da Colômbia define estratégia para hipopótamos de Pablo Escobar
Quatro mamíferos escaparam em 1993 e hoje já são cerca de 130, a maior população fora da África
Depois de muita dor de cabeça, o governo da Colômbia traçou nesta semana sua nova estratégia para lidar com os hipopótamos que fugiram do zoológico particular de Pablo Escobar após a morte do narcotraficante: enviá-los ao exterior. A saga dos animais, que começaram como um experimento exótico e eventualmente se tornaram pragas, já dura 30 anos.
Os pescadores de Las Angelitas, às margens do rio Cocorná, nunca haviam visto um hipopótamo antes deles tomarem a bacia do rio Magdalena como seu novo lar. A primeira reação da população foi de curiosidade. Na época, pessoas pararam os afazeres do dia a dia para observar o animal no rio.
“Ouvimos rumores sobre esses hipopótamos e vimos pegadas rio abaixo, mas como nunca estivemos em um zoológico, nunca vimos um animal como aquele na vida real”, disse Franki de Jesús Zapata Ciron, ao jornal britânico The Guardian. “Um animal vindo da África, aqui!? Parecia curioso e bonito”. +
O primeiro casal de hipopótamos que se instalou em Las Angelitas, em 2016, era pacífico, mas logo os animais se tornaram territorialistas e agressivos quando tiveram seus primeiros filhotes. Agora, oito animais vivem nas redondezas e a população passou a ter que tomar certos cuidados para evitar ataques, como não pescar quando eles estiverem por perto e deixar as luzes do lado de fora das casas acesas durante a noite.
Os hipopótamos que habitam a região podem ser rastreados até aqueles que fugiram da propriedade de Pablo Escobar. Na década de 1980, o traficante mandou trazer quatro dos mamíferos para seu zoológico particular, na gigante Hacienda Nápoles. Eles fariam companhia para outros animais exóticos no local, como girafas, camelos e avestruzes.
Quatro mamíferos escaparam, e hoje já são cerca de 130, a maior população fora da África. Na Colômbia, os animais não tem grandes predadores, então podem chegar ao número de 1.400 hipopótamos até 2034, segundo especialistas.
Em 2009, foi feita uma tentativa de matar os hipopótamos, mas a operação teve que parar depois que uma fotografia comoveu o país.
+ Os hipopótamos de Pablo Escobar que viraram dor de cabeça para a Colômbia
À medida que a população dos animais cresce, lidar com o problema se torna mais difícil. O governo do estado de Antioquia, no noroeste da Colômbia, já está em contato com um parque na Índia, para onde planeja enviar 60 hipopótamos, e um santuário no México, para onde deseja enviar 10.
A população apoia os esforços em se livrar dos animais. Cada hipopótamo come cerca de 40 kg de grama por noite es seus excrementos envenenam a água, matam peixes e colocam em risco a biodiversidade local.
Além disso, os animais também estão começando a entrar em conflito com a população. Em 2020, um homem de 46 anos foi atacado por um hipopótamo macho enquanto coletava água. Ele teve as costelas e a perna direita quebradas, ficou três dias desacordado e passou meses internado em um hospital.
Entretanto, a oeste de Las Angelitas, onde o rio Cocorná encontra o rio Magdalena, a população tem mais carinho pelos grandes mamíferos. A comunidade de Estación Cocorná começou a lucrar com o “turismo de hipopótamos”.
“Não queremos que sejam esterilizados ou mortos”, afirmou Álvaro Díaz, um pescador que cobra turistas para ver os animais, ao The Guardian. “Aprendemos a coabitar com o hipopótamo e podemos ler sua linguagem corporal para sabermos quando estão com raiva e querem ficar sozinhos. E além disso, eles nasceram aqui. Eles também são colombianos agora”.
A opinião dos habitantes de Cocorná é diferente por conta sua localização. A comunidade fica longe para ter contato direto com os animais, mas próxima o suficiente para lucrar com turistas que querem ver os hipopótamos.