Governo de Hong Kong inicia tímido diálogo com manifestantes
Twitter afirma ter encontrado 936 contas chinesas com a função de propagar informações falsas sobre os protestos na ilha
De maneira pouco convincente, o governo de Hong Kong “estendeu uma ponte” aos manifestantes nesta terça-feira, 20, ao criar uma plataforma de diálogo com o objetivo de encerrar os protestos que ocorrem há 12 semanas no território, segundo a chefe do Executivo do território autônomo, Carrie Lam.
Embora não tenha dado mais detalhes, Lam afirmou que essa iniciativa dará às autoridades “uma base muito melhor para tratar algumas ansiedades e diferenças na sociedade”. A dificuldade, porém, está no fato de os movimentos não terem claras lideranças. São convocados diariamente pelas redes sociais, sem uma bandeira política – apenas os guarda-chuvas como símbolo. Lam, por sua vez, é claramente pró-Pequim.
“Queremos chegar à sociedade o mais rápido possível”, acrescentou a dirigente local, a quem os manifestantes exigem há semanas que renuncie e cuja popularidade, segundo uma pesquisa recente, está no ponto mais baixo registrado entre qualquer líder de Hong Kong desde que o território foi devolvido para a China.
Os protestos começaram em março contra a tramitação do projeto de lei de extradição que facilitaria a entrega de suspeitos a outras jurisdições, como a China continental, no Parlamento de Hong Kong. A população viu o texto como uma ferramenta de repressão e de perseguição aos opositores de Pequim. O projeto foi suspenso no início de junho.
No entanto, foi a partir de começo de junho que as manifestações começaram a atrair milhares de pessoas às ruas todos os finais de semana, com protestos reprimidos violentamente pela polícia.
“Em nível político, a proposta (de lei de extradição) está morta. Não há planos de revivê-la, em particular levando em conta as preocupações públicas”, reiterou hoje mais uma vez Lam. O projeto já havia sido arquivado em julho. Mesmo assim, os manifestantes não se contentaram e passaram a exigir que a lei seja retirada de forma definitiva do Parlamento.
Essa proposta foi apresentada nesta terça-feira pelo chefe do órgão de supervisão policial de Hong Kong, Anthony Neoh, com o objetivo de tentar aplacar os ânimos dos manifestantes. Em entrevista ao jornal de Hong Kong “South China Morning Post”, Neoh, diretor do Conselho Independente de Reivindicações Policiais (CIRP), opinou que o projeto de lei “só está morto na cabeça do governo, porque decidiu não revivê-lo. Essa não é a forma de retirar a legislação”.
Outra reivindicação dos manifestantes é o estabelecimento de uma comissão de investigação independente sobre a brutalidade policial na dispersão dos protestos, o que Lam se negou, alegando que o órgão dirigido por Neoh é o responsável por isso.
Os protestos de Hong Kong receberam apoio, embora minoritário, de Macau, onde sete pessoas foram detidas na segunda-feira 19 após participarem de uma vigília de apoio às manifestações em Hong Kong não autorizada pelas forças de segurança.
Propaganda chinesa
Na segunda-feira, o Twitter denunciou ter encontrado 936 contas com origem na China que tinham a função de deslegitimar os protestos em Hong Kong valendo-se de informação falsa e comentários provocativos.
“Temos provas certeiras de que isso é uma operação com apoio estatal. Especificamente, identificamos grandes grupos de contas que se comportam de forma coordenada para amplificar as mensagens relacionadas com os protestos em Hong Kong”, indicou a empresa, que baniu as contas.
Apesar de as manifestações terem começado somente como protesto diante do projeto de lei de extradição, elas se transformaram em um movimento que reivindica a melhoria dos mecanismos democráticos da cidade e, definitivamente, a oposição ao autoritarismo chinês.
Pequim assegura que, por trás dos protestos, existe uma “mão negra” e aponta com frequência para os Estados Unidos como responsável.
Sob a fórmula “um país, dois sistemas”, o governo chinês se comprometeu a manter a autonomia de Hong Kong e a respeitar uma série de liberdades individuais até 2047, após ter recuperado a soberania do território de mãos britânicas em 1997.
(Com EFE)