As negociações de paz para o Iêmen começam nesta quinta-feira, 6, na Suécia, entre o governo iemenita, apoiado pela Arábia Saudita, e os rebeldes houthis, respaldados pelo Irã.
Os representantes rebeldes chegaram na terça-feira 4 à noite à Suécia a bordo de um avião especial kuwaitiano, no qual também viajou o mediador das Nações Unidas, o britânico Martin Griffiths.
Os representantes do governo, que saíram de Riad, chegaram na quarta-feira 5 à noite a Estocolmo. A delegação é liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Khaled al-Yemani.
A delegação do governo mobilizará todos os esforços “para que as consultas (na Suécia), que consideramos uma ocasião real para restabelecer a paz, sejam um sucesso”, afirmou Abdallah Alimi, chefe de gabinete do presidente Abd Rabo Mansur Hadi, no Twitter.
Outras iniciativas destinadas a encerrar a brutal guerra no país fracassaram. Em setembro, uma delegação do governo viajou para Genebra para negociar, mas os rebeldes houthis não compareceram.
Especialistas e fontes diplomáticas estão cautelosos antes das negociações, que devem ajudar a “construir confiança” entre as duas partes.
Uma fonte diplomática do Conselho de Segurança da ONU disse que “tem muito pouca esperança” de que essas conversações possam levar a progressos concretos.
“Primeiro passo vital”
Na quarta-feira, representantes dos rebeldes foram vistos andando nas proximidades do centro de conferências do castelo de Johannesbergs, localizado a cerca de 60 km de Estocolmo, sob alta proteção policial.
“Não temos ilusões e sabemos que esse processo não será fácil, mas damos as boas-vindas a este primeiro passo vital e necessário”, comentou o Departamento de Estado dos EUA na terça-feira.
Os rebeldes xiitas houthis “não pouparão esforços para fazer as negociações correrem bem”, disse Mohamed Abdelsalam, chefe da delegação rebelde.
Uma das medidas que pode favorecer esses encontros é a assinatura de um acordo entre os rebeldes e o governo do presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, atualmente no exílio, para a troca de centenas de prisioneiros.
Hadi Haig, responsável pelos detidos para o governo iemenita, declarou na terça-feira que o acordo assinado afetará entre 1.500 e 2.000 membros das forças pró-governo e entre 1.000 e 1.500 rebeldes houthis. A troca de prisioneiros deve acontecer após as negociações na Suécia.
Um representante dos rebeldes, Abdel Kader al Murtadha, expressou seu desejo de que ele seja “aplicado sem problemas”.
Oportunidade “decisiva”
A evacuação, na segunda-feira, dos rebeldes houthis feridos para Omã abriu caminho para conversações na Suécia.
A reabertura do Aeroporto Internacional de Sanaa, que estava fechado há três anos, o registro de áreas minadas pelos rebeldes, um cessar-fogo e a abertura de corredores humanitários devem estar na mesa de negociações.
O Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) pediu nesta quarta-feira que os dois lados cessem os combates.
“Os beligerantes devem entender os meios para reabrir todos os portos e estabilizar a economia nacional que está afundando, enquanto facilitam o acesso total e desimpedido à ajuda humanitária”, declarou o NRC.
Conflito
Segundo o Banco Mundial, o conflito que começou em 2014 provocou uma dramática crise econômica, com uma contração do PIB de 50% desde 2015.
Em 2014, os rebeldes houthis conquistaram amplas faixas do território do país, incluindo a capital Sanaa e a estratégica cidade portuária de Hodeida.
Em março de 2015, a Arábia Saudita passou a liderar uma coalizão militar de apoio ao governo do Iêmen para conter o avanço dos houthis. Desde então, o conflito deixou quase 10.000 mortos e mais de 56.000 feridos, de acordo com a ONU.
A guerra foi progressivamente transformada em uma “guerra por procuração” entre os grandes rivais regionais, saudita e iraniana.
O ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, Anwar Gargash, cujo país é um pilar da coligação militar, considerou que as negociações oferecem “uma oportunidade decisiva para iniciar com sucesso uma solução política”.
Quase 80% da população do país, aproximadamente 24 milhões de pessoas, “precisa […] de proteção e assistência humanitária”, segundo a ONU.
Em todo o país, 18 milhões de pessoas passam por insegurança alimentar, dos quais 8,4 milhões já sofrem de “fome extrema”.
(Com AFP)