Planalto nega que EUA tenham descumprido acordo sobre OCDE
Brasil aceitou abdicar de vantagem na OMC para ganhar apoio americano; assessor do governo diz que o combinado será seguido
O assessor especial para assuntos internacionais do governo de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, se pronunciou no fim da noite desta terça-feira 07 sobre a informação de que diplomatas americanos descumpriram o acordo feito com o Brasil para apoiar a entrada do país na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo reportagem do jornal Valor Econômico, representantes de Washington não se manifestaram sobre o tema em reunião da organização, em Paris, contrariando o que seria esperado pelas autoridades brasileiras.
Em postagem no Twitter, Martins negou que o governo americano tenha descumprido o que foi acordado.
“A posição do governo americano em relação ao ingresso do Brasil na OCDE é exatamente a mesma que foi adotada pelo Presidente Donald Trump no dia 19 de março: a de apoio claro e inequívoco ao início do processo de ingresso do nosso país na organização”, escreveu Martins. Segundo ele, “há um impasse sobre o número de vagas a serem abertas na organização, decisão que demandará consenso: enquanto países europeus desejam abrir 6 vagas, outros desejam abrir apenas 4, mas todos apoiam o acesso do Brasil”.
Os Estados Unidos se comprometeram a apoiar a candidatura do Brasil a membro da OCDE durante viagem oficial do presidente Jair Bolsonaro aquele país em março. O pleito brasileiro foi encampado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que vê a adesão ao chamado clube dos países ricos como um selo internacional de confiança no Brasil. “Estou apoiando o Brasil para entrar na OCDE”, disse Trump no Salão Oval da Casa Branca, onde recebeu Bolsonaro no dia 19 de março.
O apoio formal dos EUA para a entrada do Brasil na OCDE é considerado crucial, mas veio com uma contrapartida. Em troca, o governo brasileiro concordou em “começar a renunciar” ao tratamento diferenciado dado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) aos países em desenvolvimento. Para os EUA, isso ajudaria a abrir caminho para a reforma que o país propõe nas regras globais de trocas comerciais.
Após a reunião privada com Bolsonaro, o presidente americano confirmou o posicionamento à imprensa nos jardins da Casa Branca. “Nós vamos apoiar. Vamos ter uma boa relação em diferentes formas. Isso é algo que vamos fazer em honra ao presidente (Bolsonaro) e ao Brasil”, disse Trump em março.
Ao longo desta terça-feira, a oposição usou as redes sociais para cobrar o governo brasileiro, repercutindo a afirmação da reportagem do Valor Econômico de que o acordo fora descumprido.
“A subserviência de Bolsonaro a Trump agrada ao astrólogo ideólogo do governo morador dos EUA, mas não se traduz em nenhum ganho real para o País. Pelo contrário, já podem ser vislumbradas as perdas”, escreveu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mencionando o escritor Olavo de Carvalho. “Estados Unidos dão um chute no Brasil e não apoiam sua entrada na OCDE, mesmo depois do Brasil ter abdicado do tratamento diferenciado da OMC, complicando nosso comércio internacional. Até aonde vai o complexo de viralatismo do desgoverno Bolsonaro?”, tuitou o deputado André Figueiredo (PDT-CE).
“EUA mantêm bloqueio na OCDE e não cumprem barganha com Brasil”, postou o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS). “Belo acordo, capitão! Abrimos mão de vantagens comerciais que tínhamos na OMC a pedido do seu amigo Donald Trump, que lhe retribuiu mantendo o bloqueio ao Brasil na OCDE. É isso que dá ser capacho de americano”, ironizou o deputado Jorge Solla (PT-BA).
(Com Estadão Conteúdo)