Gregos usam TV e rádio para localizar desaparecidos após incêndios
Número de mortos em tragédia pode aumentar conforme equipes de resgate acessam áreas destruídas e vasculham casas e carros carbonizados
Enquanto as equipes de resgate continuam nesta quarta-feira (25) as buscas por pessoas desaparecidas em casas e veículos carbonizados por um dos maiores incêndios florestais na Grécia, as famílias se mobilizam nas redes sociais e nas redes de televisão locais para tentar reaver seus familiares.
O fogo dizimou áreas próximas a Atenas e deixou ao menos 79 mortos. Não há informações oficiais sobre o total de pessoas desaparecidas. A porta-voz do serviço de bombeiros, Stavroula Malliri, disse que o número de mortes havia chegado a 79, mas é possível que aumente conforme as equipes gradualmente passem pelas centenas de casas queimadas, pelo litoral e no mar.
Com o número de desaparecidos ainda indefinido, as autoridades têm pedido às famílias que tentem algum contato. Estações de rádio e televisão estão sendo utilizadas na busca por informações. A história de um homem que está procurando suas filhas se destaca entre os muitos casos de famílias em busca de parentes desaparecidos.
Yiannis Philipopoulos e sua mulher reconheceram as filhas Sophia e Vasiliki, de 9 anos, em imagens do noticiário, depois de passarem um dia inteiro procurando em hospitais e dando amostras de DNA no necrotério de Atenas.
Philipopulos disse que as meninas estavam com os avós paternos, que não apareceram nas imagens. Segundo ele, as gravações lhe deram esperança de que as crianças estivessem vivas. O pai pediu a qualquer um que tenha informações sobre as garotas para entrar em contato.
As imagens mostravam duas meninas entre várias pessoas, muitas em trajes de banho, saindo do barco de pesca. No entanto, o capitão disse que as autoridades registraram os nomes de todos os resgatados pela embarcação, e o nome das filhas de Philipopoulos não estava na lista.
Os incêndios que cercaram Atenas começaram na segunda-feira (23) e se espalharam com os ventos fortes. A velocidade com que as chamas se dissiparam no nordeste da capital surpreendeu as autoridades, que dizem acreditar que o vento tenha contribuído para o alto número de mortes.
Mais de 280 bombeiros atendiam a área nordeste de Atenas, na parte mais aberta de Rafina, apagando as chamas remanescentes e evitando que o incêndio se espalhasse. Ao mesmo tempo, outros 200 bombeiros, com o apoio de um helicóptero adaptado para lançar água, combatiam o fogo na região oeste da capital, perto de Agioi Theodori, onde autoridades locais esvaziaram três comunidades, um acampamento de verão infantil e três mosteiros como medidas preventivas.
As bandeiras pelo país foram hasteadas a meio-mastro depois que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou três dias de luto nacional.
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“Não pudemos ver o fogo, que veio de repente. Havia muito vento e nós não vimos como aconteceu”, disse Anna Kiriazova, de 56 anos, que sobreviveu com seu marido, porque se fecharam dentro de casa e não tentaram fugir. Ela disse que utilizou uma mangueira de jardim para molhar a casa e creditou sua sobrevivência também ao fato de as janelas da casa serem de metal e não de madeira.
“Nós nos fechamos na casa, fechamos as venezianas, tínhamos toalhas sobre nossos rostos”, disse. “O inferno durou cerca de uma hora. Eu não tenho palavras para descrever o que passamos.”
O marido dela, Theorodos Christopoulos, de 65 anos, disse que o casal decidiu ficar dentro de casa, porque as estradas estavam congestionadas. “Houve muito pânico, porque a estrada inteira ficou bloqueada por carros”, disse. “Gritos, histeria, podíamos ver que o fogo estava chegando com o vento. O cheiro já era forte, o céu estava preto e, em pouco tempo, o fogo já estava aqui”, relembrou.
Fuga para o mar
Centenas de moradores abandonaram seus carros e correram em direção às praias próximas, de onde foram resgatados pela Guarda Costeira e barcos particulares. Dezenas entraram no mar, apesar do mau tempo, para escapar do calor intenso e da fumaça sufocante.
Uma mulher disse à TV estatal que havia fugido para o mar com sua filha e netos, de 13 e 15 anos, e foram forçados a nadar mar adentro junto de outros grupos de pessoas que também haviam buscado abrigo na praia. “O mar estava queimando, pinhas flamejantes caíam”, disse a mulher, que deu apenas seu primeiro nome, Mary.
A fumaça escureceu o céu e, rapidamente, o grupo se perdeu. “O céu estava cheio de fumaça e o mar estava tempestuoso”, disse. “Havia muitas ondas, ondas enormes. Elas vinham sobre nós como montanhas.” No desespero, ela e os netos gritavam por socorro aos aviões de combate a incêndio que sobrevoavam a região.
Depois de mais de quatro horas no mar, o grupo foi resgatado por um barco de pesca com tripulação egípcia. A embarcação ajudou outras pessoas e resgatou o corpo de uma mulher que havia se afogado.
(Com Estadão Conteúdo)