Com a reação popular limitada pela lealdade dos comandos militares a Nicolás Maduro, o líder oposicionista venezuelano Juan Guaidó confia agora na pressão internacional para derrubar o regime. O autoproclamado presidente interino aposta suas fichas na possível reação dos países do Grupo de Lima, que se reúnem nesta segunda-feira, 25, em Bogotá, com a presença dos vice-presidentes dos Estados Unidos, Mike Pence, e do Brasil, general Hamilton Mourão. Guaidó estará presente.
Aliado de primeira hora de Guaidó, o presidente da Colômbia, Iván Duque, pediu neste domingo que se intensifique o cerco diplomático contra Nicolás Maduro. Embora tenha descartado intervenção militar por parte da Colômbia, Duque está ciente que essa opção está na mesa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O colombiano previu mais deserções de efetivos das forças de segurança da Venezuela que reconhecem Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela.
“A comunidade internacional tem a obrigação de intensificar o cerco diplomático porque uma ditadura que é capaz de queimar medicamentos e alimentos para atender as pessoas indefesas no seu território é a maior demonstração da brutalidade que está disposta a cometer para se preservar no poder”, disse Ivan Duque à imprensa, durante visita às pontes na fronteira, acompanhado de Guaidó e do presidente do Chile, Sebastián Piñera.
Neste domingo, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou que os dias de Maduro “estão contados”, mas não citou uma data exata. Ele enviou para o Brasil a secretária adjunta para o Hemisfério Ocidental, Kimberly Breier, para tratar da questão venezuelana – além de temas bilaterais de interesse de Washington, que está por agendar a visita do presidente Jair Bolsonaro a Trump, possivelmente no final de março.
Guaidó informou que pedirá à comunidade internacional que se mantenha “abertas todas as opções para obter a libertação” da Venezuela. A declaração dá margem para a inclusão de uma solucão militar. Ele afirmou que considera “a pressão interna e externa como fundamentais”.
Apesar da censura internacional à violência da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) contra manifestantes que pediam o ingresso da ajuda humanitária, analista acreditam que Maduro conseguiu confirmar o apoio dos militares a seu regime e que Guaidó ficou chamuscado. “Guaidó sai enfraquecido porque, depois do ocorrido, não está muito claro que o apoio que tem em seu território é muito grande”, disse o professor de Relações Internacionais, Rafael Piñeros.
A tentativa de enviar a ajuda humanitária pelas fronteiras da Colômbia e do Brasil estão suspensas neste domingo por causa da violência. As deserções de militares alcançam cerca de 70 – total muito reduzido em comparação com o total do contingente da FANB, de 123.000 soldados.
Teerã
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Yavad Zarif, criticou neste domingo a interferência americana na Venezuela e reiterou seu apoio ao governo de Nicolás Maduro, em reunião realizada em Teerã com o vice-chanceler venezuelano, Rubén Darío Molina. Os Estados Unidos enviaram a Cúcuta, na Colômbia, e ao Brasil doações de alimentos que se somaram às desses governos.
China, Rússia, Irã e Turquia, além de Cuba, ainda mantêm apoio ao regime de Maduro.
Segundo comunicado da chancelaria iraniana, Molina informou Zarif sobre os últimos eventos na Venezuela, onde a tensão aumentou nas fronteiras com o Brasil e com a Colômbia, após Caracas ter impedido a entrada da ajuda humanitária internacional. O ministro iraniano rejeitou “qualquer interferência estrangeira” na Venezuela e apoiou a proposta de Maduro de manter conversas políticas entre o governo e a oposição para resolver a crise.
Tanto Zarif quanto Molina condenaram “as medidas intrometidas do governo americano nos assuntos internos da Venezuela e de outros países latino-americanos”. Ambos ressaltaram que ameaçar usar a força contra a Venezuela, como fizeram os EUA, é “uma medida condenada ao fracasso que viola o direito internacional e a Carta das Nações Unidas”.
(Com AFP, Reuters e EFE)