Guaidó pedirá decretação de `emergência` na Venezuela em blecaute
Pelo menos 17 pessoas morreram por causa do apagão, que se estende há quatro dias; Maduro culpa EUA
No quarto dia do apagão sem precedentes na Venezuela, o autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, denunciou neste domingo, 10, que 17 pessoas morreram em hospitais devido ao blecaute. Diante da falta de energia elétrica, o líder oposcionista anunciou que pedirá à Assembleia Nacional que decrete “estado de emergência” no país.
“Há 17 mortos confirmados, 15 deles em Maturín, mas por causa da falta de comunicação não pudemos monitorar 17 dos 40 hospitais que são normalmente monitorados”, disse Guaidó em entrevista à imprensa na sede do Parlamento da Venezuela.
O total de 17 mortos fora antecipado pela organização não governamental Doctors for Health no sábado 9. Nas redes sociais, muitos venezuelanos relatam haver 40 vítimas fatais, muitas delas pacientes dependentes de tratamentos de diálises.
Guaidó afirmou que pedirá a decretação de “estado de emergência” durante uma sessão extraordinária na Assembleia Nacional para “avaliar o estado de alarme nacional e tomar as devidas ações”. Ele não antecipou quais medidas devem ser tomadas – até porque a gestão do sistema elétrico continua subordinada ao governo de Nicolás Maduro. Mas disse que Guaidó que a oposição mantém “conversas” com uma empresa alemã com capacidade para fornecer de maneira imediata geradores de energia e outros insumos necessários para estabilizar o sistema.
Nicolás Maduro mantém seu discurso de que o blecaute é culpa de um ato de “sabotagem” dos Estados Unidos na represa hidrelétrica de Guri. Mas especialistas dizem que é resultado de anos de investimentos insuficientes na represa e na rede de transmissão. “O sistema elétrico nacional tem sido objeto de múltiplos cyberataques”, escreveu Maduro no Twitter neste domingo. “No entando, nós estamos fazendo grandes esforços para restaurar o fornecimento (de forma) estável e definitiva nas próximas horas.”
O blecaute também afetou o fornecimento de água, um recurso escasso há anos no país. Os serviços de comunicação estão instáveis, pois as operadoras não funcionam em diversas áreas do território nacional, inclusive em Caracas. Filas se formaram nos poucos postos de gasolina de Caracas com bombas abertas, enquanto motoristas pararam ao longo dos acostamentos das rodovias para usar seus telefones celulares nas raras áreas da cidade com sinal.
Algumas padarias, supermercados e restaurantes estavam abertos e funcionando com geradores de reserva. Muitos pediram aos clientes que pagassem suas contas com notas de dólares americanos, uma vez que os sistemas de pagamento por cartão de débito não funcionavam de forma confiável, e os bolívares locais estão escassos há anos e ultradesvalorizados.
“Os clientes estão comprando bebidas, baterias e biscoitos, mas estamos sem água”, disse Belgica Zepeda, uma vendedora de uma farmácia de Caracas.
O blecaute começou na tarde de quinta-feira 7 e aumentou a frustração dos venezuelanos, que já estão sofrendo há pelo menos cinco anos a ampla escassez de comida e de medicamentos, com a hiperinflação, a recessão e o desemprego. Alimentos apodreceram nas geladeiras, apesar do desabastecimento, e pessoas andaam quilômetros para chegar ao trabalho porque o metrô de Caracas parado. Familiares no exterior aguardam ansiosos por notícias de seus parentes, com os sinais de telefone e internet intermitentes.
“O que você pode fazer sem eletricidade?”, questionou Leonel Gutierrez, um técnico de sistemas de 47 anos, enquanto carregava sua filha de seis meses para comprar mantimentos. “A comida que tínhamos estragou.”
(Com Reuters e EFE)