À margem da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que ocorre nesta terça-feira, 24, o ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, disse que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa avaliar se as propostas do Uruguai para o Mercosul são compatíveis com os interesses do bloco.
Quando perguntado sobre sua opinião acerca do que propõe o governo uruguaio para o mercado comum, ele respondeu: “Isso veremos amanhã.”
Lula e sua comitiva vão viajar da Argentina, onde participaram de uma reunião bilateral com o governo argentino na segunda-feira 23, para o Uruguai na quarta-feira, 25, para um encontro com o presidente Luis Lacalle Pou, um dos únicos chefes de Estado de centro-direita restantes na América Latina.
Há dois anos, o Uruguai apresentou uma proposta para flexibilizar as negociações do Mercosul e permitir que países integrantes façam acordos comerciais unilaterais com terceiros.
De acordo com o rascunho do documento distribuído pelo Ministério do Exterior uruguaio, a proposta estabelece que, sob algumas condições, os países integrantes poderão iniciar negociações “seja de maneira coletiva, seja de maneira individual”.
“Os países que iniciarem negociações devem informar ao GMC (Grupo Mercado Comum), órgão executivo do Mercosul e fornecer as informações que lhes forem solicitadas. Da mesma forma, deverão manter o GMC informado sobre a evolução e progresso das negociações”, diz o texto da proposta uruguaia.
Montevidéu tem interesse em flexibilizar a atuação do bloco para contornar as burocracias – e atrasos – de negociações multilaterais, com foco em acordos com Estados Unidos e China. Embora tenha sido criado há quase três décadas, o Mercosul ainda está longe de azeitado.
“Não tenho conhecimento dos termos em que está sendo negociado o acordo da China com o Uruguai. Mas faremos uma visita para fortalecer o Mercosul. Eu acredito que a América do Sul, o destino dela de sucesso, passa pelo bloco econômico. Quanto a isso, eu não tenho nenhuma dúvida”, disse Haddad na Celac.
Embora o bloco ainda não tenha batido o martelo sobre a proposta, ela não foi muito bem recebida. Em novembro passado, os coordenadores nacionais de Brasil, Argentina e Paraguai no Mercosul enviaram um alerta ao Uruguai após o país ter supostamente agido individualmente em busca de acordos comerciais de teor tarifário.
Em nota conjunta, Brasil, Argentina e Paraguai disseram ter informado o Uruguai que se reservam ao “direito de adotar as eventuais medidas que julgarem necessárias para a defesa de seus interesses” jurídicos e comerciais.
Enquanto o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foi mais receptivo às propostas, é difícil que Lula, alinhado à esquerda e aos interesses da América Latina como região, ceda à flexibilização. Mas, como disse Haddad, “isso veremos amanhã”.