No dia 9 de março, quando o mundo acordava para a gravidade da pandemia, Harry e Meghan, os duques de Sussex, se despediram de outro universo, este bem mais glamouroso: uma missa na Abadia de Westminster foi o derradeiro compromisso como senior royals, como é conhecido o alto escalão da família real britânica. Por opção própria, o casal abdicou das mordomias e dos rendimentos da realeza, pegou o filhinho, Archie, e se mudou com muita, muita bagagem para uma mansão em Los Angeles. Não foi uma decisão fácil e nem saiu do jeito que eles queriam. A ideia era continuar aparecendo nas reuniões de família, livrando-se dos compromissos chatos e liberando tempo para tocar a vida perto da turma de Meghan (que não passou pela garganta dos nobres parentes) e longe do radar dos tabloides. O Palácio de Buckingham foi radical — se é para sair, adeus. Assim foi feito. Em novembro, quando o Reino Unido inteiro põe uma papoula vermelha na lapela e lembra os mortos em grandes guerras, restou aos Sussex, desconvidados para as cerimônias oficiais, prestar sua homenagem em um cemitério californiano. Ainda tiveram o dissabor de saber que Frogmore Cottage, a casa que reformaram, foi repassada para Beatrice, filha de Andrew e princesa secundária na hierarquia.
Harry e Meghan seguem a quarentena, aparecem pouco e de máscara e estão conseguindo manter Archie, de 1 ano e meio, longe dos curiosos. Mas isso não quer dizer que não estejam pondo as elegantes manguinhas de fora. Ambos deram pitaco na eleição americana, sendo que a americana Meghan (que uniu a cidadania original à britânica) convocou abertamente a população a votar — na polarizada eleição dos Estados Unidos, “vá votar” se traduzia por “vote em Joe Biden”. O casal fechou em setembro um acordo de 100 milhões de dólares com a Netflix para produzir documentários, filmes, programas e conteúdos infantis para a plataforma. Brandindo uma assinatura que raramente se vê na imprensa, Meghan, duquesa de Sussex, publicou um artigo no New York Times — As Perdas que Compartilhamos — no qual revelou que esteve grávida do segundo filho, mas sofreu um aborto espontâneo. Assim, aristocraticamente, Harry e Meghan vão tocando a vidinha de celebridades enrustidas nos Estados Unidos.
Publicado em VEJA de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719