Forçado a anunciar sua renúncia no início do mês por uma série de escândalos que levaram à retirada em massa de membros de seu próprio governo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se despediu nesta quarta-feira, 20, do Parlamento. Sob vaias de oponentes, e alguns aplausos de aliados, usou a célebre expressão “hasta la vista, baby”, da franquia de ação Exterminador do Futuro, para tentar deixar uma marca depois de três anos à frente do Reino Unido.
“Nós ajudamos este país a atravessar uma pandemia e ajudamos a salvar outro país da barbárie. Francamente, é o suficiente”, disse o premiê, em uma referência à ajuda britânica dada à Ucrânia durante a guerra com a Rússia. “Missão amplamente cumprida. Quero agradecer a todos aqui e hasta la vista, baby”.
A presença de Boris marcou sua última participação no Legislativo para as tradicionais sessões semanais de respostas às perguntas de críticos e aliados. Ainda assim, o premiê não deve sair do poder nos próximos dias, já que fica no cargo de forma interina até que seu partido, o Partido Conservador, escolha um novo líder e, por consequência, o novo primeiro-ministro. O ex-ministro Rishi Sunak larga na frente para ocupar cargo, depois de vencer a primeira rodada de votação dos parlamentares.
Nesta quarta-feira, na sessão do Parlamento, o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, perguntou a Johnson justamente sobre a campanha para escolha de seu sucessor. Sob risadas de alguns companheiros de partido, o premiê disse “não acompanhar o tema com atenção”, mas não deixou de dar “conselhos para o próximo premiê”.
“Permaneça próximo dos americanos, apoie os ucranianos, lute pela liberdade e pela democracia em todas as partes. Baixe os impostos e desregule o que puder para transformar este país no melhor lugar para viver e investir”, disse, apesar da intensa inflação que ronda o país.
A sessão desta quarta-feira, é a última dele porque o Parlamento entre em recesso no fim desta semana até 5 de setembro, quando o novo chefe de Downing Street já será conhecido.
Em seu discurso de renúncia, em 7 de julho, Johnson já havia declarado ser “doloroso não terminar meu mandato” e que “é claramente a vontade do Partido Conservador que deve haver um novo líder e um novo premiê”.
A decisão de deixar o cargo ocorreu após uma onda de renúncias em seu gabinete entre terça-feira 5 e quarta-feira 6. Estima-se que pelo menos 50 membros de seu governo tenham deixado seus cargos em protesto contra sua liderança.
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Sua liderança foi atolada por escândalos e erros, especialmente nos últimos meses. Seu manejo inicial da pandemia foi amplamente criticado. O primeiro-ministro foi multado pela polícia por violar as restrições contra a Covid-19 em um dos piores momentos da pandemia no Reino Unido, e uma investigação do governo sobre festas em seu escritório em Downing Street responsabilizou Johnson por falta de liderança.
Ele também foi bombardeado por críticas de que não teria feito o suficiente para enfrentar a inflação e a crise de custo de vida no país, com muitos britânicos lutando para lidar com o aumento nos preços de combustível e alimentos. A abordagem combativa de Johnson em relação à União Europeia também pesou sobre a libra, exacerbando a inflação, que deve ultrapassar 11%.
Ainda assim, apesar da debandada e das intensas polêmicas que cercaram seu governo, o líder britânico tentou dar destaque em seu discurso de renúncia aos seus maiores feitos.
Ele destacou que foi eleito pela maior maioria desde 1987, e a maior quantidade de votos desde 1979. Johnson se disse orgulhoso do que conquistou, mencionando o Brexit – seu principal slogan sempre foi “get Brexit done” (“concluir o Brexit”) – e a campanha de vacinação contra a Covid-19, que foi a que começou mais cedo na Europa.
Ele também destacou o papel do Reino Unido na liderança do apoio à Ucrânia, acrescentando que é preciso “ficar do lado dos ucranianos até o final”.
“Sei que algumas pessoas vão ficar aliviadas, e outras vão ficar desapontadas. Mas vou apoiar meu sucessor de todas as formas”, disse. Uma pesquisa do YouGov descobriu que 69% dos britânicos achavam que Johnson deveria deixar o cargo de primeiro-ministro.