Com uma população de 7,5 milhões de habitantes e pouquíssimo espaço para construir novos prédios, Hong Kong vem investindo num novo modelo de apartamento, o microflat.
Com cerca de 11 metros quadrados, espaço semelhante a uma vaga de carro, os microflats já representam 7% de todos os lançamentos habitacionais na cidade. E no total, Hong Kong contabiliza 8.500 unidades do tipo.
Para se ter uma ideia, esse espaço representa um terço dos 30 metros quadrados encontrados nas insalubres casas-gaiola, moradia comum entre os moradores de baixa renda da cidade.
Já as charmosas micro casas dos Estados Unidos possuem em média 40 metros quadrados. Esse tipo de construção foi popularizada pelo movimento minimalista, que prega redução no consumo material,
Esse tipo de apartamento está presente em quase todas as novas torres inauguradas recentemente na metrópole. Para tornar a compra mais palatável, os micro apartamentos são vendidos como “casas acessíveis”.
Isso porque Hong Kong possui um dos metros quadrados mais exclusivos do planeta, sendo a quinta cidade mais do mundo para se viver em 2021, segundo ranking divulgado este mês pela revista “The Economist”.
A crise habitacional pode ser explicada pela escassez de espaço para novos empreendimentos. Desde 2010, o preço médio de um imóvel explodiu 187%, segundo dados divulgados pelo governo.
Assim, uma unidade habitacional hoje custa, em média, 1,3 milhão de dólares.
Como o salário mínimo de Hong Kong é de apenas 4,8 dólares por hora, um trabalhador local precisa trabalhar 21 anos para poder comprar um apartamento de 60 metros quadrados.
É o maior período exigido para um financiamento do tipo do planeta, segundo a consultoria UBS.
Já os micro apartamentos costumam ser ofertados por valores menores que, no entanto, não deixam de ser exorbitantes. Se for localizado em regiões centrais, como o bairro de Kowloon, o valor de uma unidade do tipo gira em torno dos 800.000 dólares.
O investimento das incorporadoras em apartamentos minúsculos disparou a partir de 2015, quando o governo afrouxou as regras para ventilação e luz natural.
Até então, o código de construção exigia que cozinhas fossem separadas do restante da casa por uma parede, e que possuíssem janela. Isso obrigava os prédios a construir janelas internas para pátios internos , facilitando a circulação de ar.
Agora, porém, é possível fazer cozinhas integradas ao apartamento, e somente uma janela por unidade. Assim, os incorporadores começaram a construir unidades estreitas e voltadas para um único corredor.
O resultado é sufocante. A cozinha fica muito semelhante a um frigobar de hotel, com a adição de um fogão elétrico. Às vezes, inclui-se também um micro-ondas, mas jamais há fogão e forno.
Já o banheiro pode ou não ter box. Em boa parte das unidades, por sinal, o chuveiro é instalado acima do vaso sanitário.
A complexa topografia de Hong Kong ajuda a explicar a crise. Cerca de 75% do território é ocupado por montanhas e áreas verdes. Essa região concentra nada menos que 24 parques protegidos por lei, onde não é possível erguer nenhum tipo de construção.
Desde a década de 1960, Hong Kong vê como fundamental a preservação ambiental, já que essas montanhas são mananciais de água doce, uma riqueza bastante escasso por lá.
Assim, Hong Kong conta com 443 quilômetros quadrados de florestas, pântanos, formações rochosas intocáveis.
Também houve ausência de política pública e proteção aos mais vulneráveis.
O governo local permitiu que poucos incorporadores se apoderassem do mercado imobiliário, permitindo especulação crescente. Para se ter ideia, a fila para conseguir uma casa popular ultrapassa os seis anos.