Um inquérito na Austrália concluiu que a segunda onda de Covid-19 no estado de Victoria, que infectou 18.000 pessoas e matou 768 delas, ocorreu por falhas na quarentena obrigatória impostas pelo governo nos hotéis Stamford Plaza e Rydges.
“A falha nas políticas de quarentena dos hotéis foram responsáveis por 768 pessoas mortas e pela infecção de outras 18.490”, afirmou Ben Ilhe, promotor do caso. “Era um programa que fracassou em seu objetivo principal, que era o de nos deixar a salvo desse vírus”, disse.
Turistas e cidadãos que chegam ao país após viagens ao exterior devem cumprir uma quarentena obrigatória de 14 dias. O isolamento pode ser realizado em hotéis, mas os estabelecimentos devem seguir uma lista de protocolos elaborada pelo governo. Entre as exigências está a de não deixar os quartos.
Por dois meses, o inquérito ouviu 63 testemunhas. Os passos da propagação do vírus podem ser rastreados até os hotéis, onde não haviam especialistas de saúde trabalhando em postos chaves para conter o vírus. Em agosto, o governo disse que somente uma família que ficou em quarentena no hotel Rydges é responsável por 90% das infecções no estado.
Segundo a investigação, o secretário de Gabinete, Chris Eccles, o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Kym Peake, e o secretário do Trabalho, Simon Phesmister, falharam em manter o primeiro-ministro do estado de Victoria, Daniel Andrews, informado sobre a situação da quarentena e problemas nos hotéis.
Outro ponto levantado pela investigação é a falta de atitude do governo e a contratação da Unified Security, uma empresa privada de segurança que não fazia parte da lista de fornecedores preferenciais do governo estadual, para fazer a segurança dos hotéis. Segundo a investigação, a escolha da Unified ocorreu de forma sem consultar o governo e sem oferecer equipamentos básicos de proteção aos agentes contratados, que, sem a atuação de profissionais da saúde nos hotéis, tiveram que realizar atividades como levar alimento para as pessoas em quarentena.
Para os investigadores, houve falha na cadeia de comando do governo, além de que os responsáveis pela política de quarentena do estado ignoraram a oferta de ajuda das forças policias para realizar a segurança dos hotéis, uma vez que os agentes teriam também acesso a infraestrutura estabelecida para combater a doença.
Devido ao pico no número de casos em agosto, Andrews determinou toque de recolher e o fechamento de estabelecimentos comerciais considerados não essenciais até pelo menos 13 de setembro em Melbourne, a segunda maior cidade do país. As medidas foram retiradas no domingo 27 e a partir desta segunda a população poderá voltar a sair de suas casas em qualquer momento para trabalhar, praticar esportes, fazer compras ou encontrar outras pessoas.
Essa flexibilização das restrições ocorre após o registro de 16 novos casos de contágio e duas mortes no domingo. Pela primeira vez desde 30 junho, o número de casos ativos está abaixo dos 400. Os viajantes, porém, ainda tem que cumprir a quarentena de 14 dias obrigatórios.