Imagens mostram aumento de atividades nucleares de Rússia, China e EUA
Pesquisa da emissora americana CNN mostrou que expansão acontece em momento de escalada das tensões entre Washington, Moscou e Pequim
A Rússia, os Estados Unidos e a China construíram novas instalações e cavaram novos túneis nos locais onde ocorreram testes nucleares nos últimos anos, enquanto as tensões entre as três principais potências nucleares atingiram o seu ponto mais alto em décadas. A informação foi dada nesta sexta-feira, 22, pela emissora americana CNN a partir da obtenção de imagens de satélites.
Embora não existam provas que sugiram que os países estão se preparando para um teste nuclear iminente, as imagens, obtidas e fornecidas por um proeminente analista em estudos militares de não proliferação, ilustram expansões recentes em três locais de testes nucleares. Um deles é operado pela China, na região do extremo oeste de Xinjiang, um pela Rússia, num arquipélago do Oceano Ártico, e outro pelos EUA, no deserto de Nevada.
Na Rússia, as imagens de satélite mostraram que houve uma extensa construção no local de testes de Novaya Zemlya de 2021 a 2023, com navios e novos contêineres chegando ao porto, estradas mantidas desobstruídas no inverno e túneis escavados profundamente nas montanhas do Ártico. Na China, aumento da atividade em Lop Nur também foi observado, onde foi encontrado um novo túnel escavado. Até mesmo as instalações em Nevada, nos EUA, ganharam uma grande expansão, com novas tecnologias sendo levadas para o centro de testes.
“Há realmente muitos indícios que estamos vendo que sugerem que a Rússia, a China e os Estados Unidos podem retomar os testes nucleares”, disse Jeffrey Lewis, professor adjunto do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação no Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, à CNN.
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As imagens dos últimos três a cinco anos mostram novos túneis, novas estradas e instalações de armazenamento, bem como um aumento do tráfego de veículos entrando e saindo dos locais. O coronel aposentado da Força Aérea dos EUA Cedric Leighton, ex-analista de inteligência, revisou as imagens das instalações nucleares e chegou a mesma conclusão.
“É muito claro que todos os três países, Rússia, China e Estados Unidos, investiram muito tempo, esforço e dinheiro não só na modernização dos seus arsenais nucleares, mas também na preparação dos tipos de atividades que seriam necessárias para um teste”, disse o coronel.
Nenhum dos três países fez testes nucleares desde que o Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares proibiu essas atividades. A China e os EUA assinaram o tratado, mas não o ratificaram. Já Moscou chegou a ratificar o acordo, mas o presidente russo, Vladimir Putin, disse em fevereiro que ordenaria um teste, se os EUA se movessem primeiro, acrescentando que “ninguém deveria ter ilusões perigosas de que a paridade estratégica global pode ser destruída”.
Analistas se preocupam que as expansões podem desencadear uma corrida para modernizar a infraestrutura de testes de armas nucleares em um momento de tensões. Eles citam a guerra na Ucrânia como principal razão para acreditar que o mundo pode chegar perto da autodestruição.
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“As ameaças veladas da Rússia de usar armas nucleares lembram ao mundo que a escalada do conflito – por acidente, intenção ou erro de cálculo – é um risco terrível. A possibilidade de o conflito fugir do controle de qualquer pessoa permanece alta”, afirmou o grupo de vigilância nuclear Bulletin of the Atomic Scientists.
O grupo acredita que hoje existe um risco maior de fim da humanidade do que em 1953, quando tanto os Estados Unidos como a União Soviética realizaram dramáticos testes de armas nucleares na superfície. Também com essa preocupação, no mês passado, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lançou um novo apelo aos principais países para que ratificassem o tratado internacional.
“Este ano, enfrentamos um aumento alarmante na desconfiança e divisão global”, disse Guterres. “Numa altura em que quase 13.000 armas nucleares estão armazenadas em todo o mundo – e os países estão a trabalhar para melhorar a sua precisão, alcance e poder destrutivo – esta é uma receita para a aniquilação.”
Na guerra na Ucrânia, diversas autoridades já sinalizaram o uso de armas nucleares como uma possibilidade. Dmitry Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, prometeu que Moscou “teria de usar armas nucleares” se a contraofensiva da Ucrânia tivesse sucesso. Já Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, disse que Minsk usaria as armas nucleares táticas que recebeu do Kremlin em caso de “agressões estrangeiras”.
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Apesar do risco de aumentar a escalada das tensões, num anuário recente sobre as forças nucleares mundiais, os analistas concluíram que todas as potências nucleares mundiais continuaram a “modernizar os seus arsenais nucleares” no ano passado. Analistas apontaram que outro motivo para a realização dos testes pode ser a obtenção de dados mais atualizados para modelos de computador que mostrem o que uma explosão nuclear pode fazer.
“Esses testes foram feitos na década de 1960, na década de 1970, na década de 1980, quando a tecnologia deles não era tão avançada. Os dados que você tem não são tão bons”, disse Lewis.