O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta segunda-feira, 29, que, após insistências na Comissão Europeia, é “impossível” manter o acordo de livre comércio com o Mercosul e exigiu que as negociações fossem encerradas. A informação foi divulgada depois que o Palácio Eliseu comunicou que a União Europeia (UE) instruiu os negociadores europeus a encerrarem as trocas comerciais com o Brasil.
À agência de notícias Reuters, um assessor presidencial francês afirmou que “Macron reiterou com muita firmeza à comissão o fato de que é impossível concluir as negociações nessas condições”.
Na semana passada, os negociadores comerciais da UE e do Mercosul se reuniram em Brasília para discutir sobre o possível acordo comercial, mas pouco progrediram sobre as negociações.
Em meio aos protestos em massa iniciados por agricultores na semana passada, o presidente francês prometeu que vai pressionar a UE por mudanças na regulamentação ambiental sobre as terras agrícolas, cedendo à pressão dos sindicatos agrícolas. Ainda não satisfeitos, os manifestantes continuaram a bloquear as principais estradas ao redor de Paris com tratores. Com a revolta dos fazendeiros franceses, outros países, como Alemanha e Polônia, também são palco de manifestações.
“A Comissão Europeia entendeu que é impossível chegar a um acordo nesse contexto. Acho que ela viu a situação na França, na Alemanha, na Polônia, na Holanda, em toda a Europa”, reiterou o assessor francês. “Entendemos que a Comissão instruiu seus negociadores a encerrar a sessão de negociação em andamento no Brasil e, em particular, a cancelar a visita do vice-presidente da Comissão, que estava prevista para haver uma conclusão”.
Na sexta-feira 26, o governo francês abandonou os planos de reduzir gradualmente os subsídios estatais ao diesel agrícola, mas, para as organizações agrícolas, a medida não era suficiente. Atualmente, os fazendeiros franceses protestam contra impostos altos sobre o diesel, os baixos preços dos alimentos e o excesso de burocracia para agricultores
Eles também se manifestaram contra o acordo comercial com o Mercosul. Segundo eles, a entrada de produtos dos países integrantes da organização permitiria importações baratas de alimentos que não cumprem as rigorosas normas ambientais da UE.
Além disso, eles reclamam da entrada de alguns produtos mais baratos produzidos na Ucrânia, que entraram no país após as liberações especiais que foram colocadas em prática depois da guerra contra a Rússia.
Críticas de Lula ao protecionismo francês
Durante a 28ª Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, a COP28, em dezembro de 2023, Lula criticou Macron pela sua postura protecionista ao setor agrícola francês. O governo da França sempre adotou esta postura e Macron já tinha se manifestado anteriormente contra o acordo comercial, agenda negociada há duas décadas entre ambos os lados.
“Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão”, comentou o presidente na época antes de acrescentar que a França costuma ser um empecilho recorrente nas negociações.
Na ocasião, temendo um acirramento na concorrência entre o agronegócio brasileiro e o francês, Macron tentou encerrar as negociações. Entretanto, outros líderes europeus, como o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, possuiam um posicionamento favorável ao acordo.