O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia-Geral das Nações Unidas nesta terça-feira, 24, foi destaque em sites e jornais internacionais. Para o jornal francês Le Monde, o líder brasileiro demonstrou grande “intolerância” e contradisse “declarações consensuais” de seus antecessores com suas declarações sobre a Amazônia.
“Jair Bolsonaro dispara carga de intolerância na Assembleia-Geral da ONU”, diz a reportagem do Le Monde, que ressalta ainda as “digressões e retóricas confusas” do discurso do presidente.
Já o francês Le Figaro destacou as acusações de Bolsonaro contra nações estrangeiras que adotaram uma postura “colonialista” em relação ao Brasil.
O presidente não chegou a mencionar a França diretamente, mas referiu-se à nação presidida por Emmanuel Macron como “um país” que seguiu a “mídia sensacionalista” e ousou “sugerir a aplicação de sanções contra o Brasil” no episódio dos incêndios na Amazônia.
O presidente brasileiro pediu respeito à soberania nacional e atribuiu a polêmica internacional em torno do desmatamento da Amazônia à “mídia sensacionalista”.
O Le Figaro ressalta, contudo, que o desmatamento da floresta “quase dobrou desde a chegada ao poder de Jair Bolsonaro em janeiro, a um ritmo de 110 campos de futebol por hora”.
Já o jornal americano The Washington Post destacou as declarações em que o presidente negou que a Amazônia esteja “sendo consumida pelo fogo”.
“O governo Bolsonaro classifica os incêndios como sazonais, mas críticos dizem que a negligência da supervisão ambiental de seu governo é a culpada”, diz a reportagem, que identifica o brasileiro como um “líder da extrema direita” que “prometeu reduzir a burocracia ambiental quando foi eleito”.
Em uma matéria intitulada “Bolsonaro defende o direito de desenvolver a Amazônia”, o The Wall Street Journal classificou o pronunciamento desta terça como um “discurso desafiador”.
Segundo o jornal econômico, o presidente brasileiro acusou “líderes internacionais e a imprensa de espalhar mentiras e tratar povos indígenas como se fossem homens das cavernas”.
Já o site da emissora britânica BBC destacou a defesa da soberania brasileira apresentada por Bolsonaro.
“Suas [de Bolsonaro] políticas de desenvolvimento na floresta tropical foram criticadas em meio aos incêndios florestais. Mas em um discurso nas Nações Unidas em Nova York, ele apresentou observações desafiadoras”, diz a reportagem.
O jornal argentino Clarín afirmou que o presidente brasileiro “levou à tribuna da Assembleia-Geral da ONU suas batalhas contra o comunismo, a ideologia de gênero, o ‘ambientalismo radical’ e o ‘indigenismo superado’”.
‘Dia dos Ditadores’
Em um artigo publicado na manhã desta terça, antes da abertura da Assembleia-Geral, o portal de notícias Politico destacava o “Dia dos Ditadores” que a ONU teria pela frente, com discursos de “líderes autocráticos” antes e depois do pronunciamento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Bolsonaro foi o primeiro líder a falar no evento. Ele foi seguido por Trump e, logo depois, pelos presidentes do Egito, Abdel Fattah al Sisi, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
“A ordem inicial de discursos na principal reunião diplomática do mundo é uma coincidência e, no entanto, serve como um lembrete vívido da queda da democracia em todo o mundo”, diz a reportagem.
“Neste ano, o presidente brasileiro é justamente o recentemente eleito Jair Bolsonaro, um populista de extrema direita que fala com admiração sobre a ditadura que já governou seu país”, afirma ainda o Politico.
“Bolsonaro restabeleceu as comemorações do golpe de 1964 que deu início ao regime militar [que durou] até 1985. Ele também se referiu a esse período de governo, marcado pela tortura e pela repressão, como ‘glorioso’”.
Logo após o discurso do líder americano será a vez de Abdel Fattah al Sisi, do Egito. O ex-chefe das Forças Armadas que assumiu o cargo de presidente após uma onda de protestos e um golpe contra o então presidente, Mohamed Mursi, comanda o país com estilo autoritário. Manifestações são duramente reprimidas e líderes políticos opositores, jornalistas e ativistas muitas vezes são presos injustamente e até mortos pelas forças de segurança.
Já Erdogan comanda um governo que, desde uma tentativa de golpe de Estado em 2016, prendeu milhares de pessoas e demitiu outras centenas de milhares de seus cargos públicos acusadas de envolvimento na trama, muitas vezes sem qualquer tipo de prova. Muitos jornalistas também foram incriminados e jornais e veículos de comunicação foram fechados.