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Imran Khan: de celebridade esportiva a político conservador e controverso

Populista, Khan é apoiado e limitado pelos militares. Relações com EUA, terrorismo e grave crise econômica do Paquistão serão seus desafios

Por Thais Navarro
Atualizado em 6 ago 2018, 15h12 - Publicado em 5 ago 2018, 09h59
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  • Imran Khan, vencedor nas eleições gerais do Paquistão, poderia ser o que muitos políticos ocidentais esperariam para um líder de um país conservador muçulmano e com uma posição geográfica estratégica, próximo ao Oriente Médio. É uma figura de influências ocidentais. Ele estudou em Oxford, foi um astro do críquete que levou seu país a ganhar o mundial de esporte de 1992, casou-se com uma socialite inglesa. Um político que tenha um histórico ocidental pode agradar à primeira vista por parecer mais liberal do que líderes anteriores.

    Mas Imran Khan mudou muito e não é nada disso. E, dependendo do que queira fazer no país, suas ações são limitadas, o que coloca o risco de que muitas questões cruciais não se resolvam com a presença do novo primeiro-ministro.

    Nos últimos anos, Khan tem se mostrado muito mais conservador do que sua imagem e seu histórico aparentavam. “Khan mudou muito. Poderia ser possível descrevê-lo como mais liberal há 20 anos. Mas essa não seria mas uma descrição tão adequada hoje”, diz a paquistanesa Mashal Saif, da Universidade Clemson, nos Estados Unidos.

    Khan apoia publicamente leis de blasfêmia, discriminatórias a minorias religiosas no país, que é majoritariamente muçulmano. “Ele é um islâmico devoto e gosta dessas leis, que são muito vistas pelo Ocidente e pelos liberais paquistaneses como injustas e preconceituosas”, diz o americano Robert Hathaway, diretor do Programa de Ásia do Wilson Center, em Washington. “Elas têm como alvo hindus, cristãos e minorias islâmicas”, diz Hathaway, que classifica Khan como um “conservador religioso”.

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    O político também não é crítico à histórica participação das forças armadas na gestão do país, que foram acusadas de interferir nas eleições a favor de Khan. Opositores e organismos internacionais alegaram irregularidades e fraudes no processo eleitoral. Mashal Saif dá aulas nos Estados Unidos, mas esteve no Paquistão nos últimos três meses e acompanhou as eleições de perto. Segundo ela, havia pôsteres de Imran Khan bombardeando os transeuntes em todo e qualquer canto da cidade, quase um a cada 25 passos: e nenhum sinal de publicidade de outros políticos ou partidos, o que levantou dúvidas.

    Nas principais questões que colocam em risco a segurança e a estabilidade do país asiático, Khan não poderá fazer muito. Em seu primeiro pronunciamento público após as eleições, ele disse que a cada passo da Índia na resolução do conflito da Caxemira, o Paquistão dará dois. A Caxemira é uma área que se encontra em conflito há 70 anos entre Paquistão, Índia e China: três países que têm bombas atômicas.

    Só que como líder civil, Khan terá que se contentar com a retórica, pois esse tipo de assunto e outros que tratem das relações exteriores paquistanesas cabem aos militares. ”Política externa e decisões sobre arsenal nuclear são áreas em que os militares não irão aceitar competição”, diz Katherine Adeney, diretora do Instituto de Pesquisas de Ásia da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. ”Se as relações melhorarem com a Índia, será pelo comando dos militares, e não de Khan”.

    Outro problema é a presença do Talibã, grupo terrorista do Afeganistão que migrou para o país e também atua nele. Khan já expressou simpatia e disposição a negociações com o grupo. Ele é da mesma etnia que a dos integrantes do Talibã: a dos pachtun, e a unidade étnica pode freá-lo em algumas decisões. Mas para Shaif, “se olharmos para a guerra contra o Talibã nos últimos 15 anos, pouca coisa mudou. Essa é uma estratégia que, pelo menos, é diferente, e pode valer à pena tentar”.

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    Khan se engana se pensar que a segurança é o único problema do Paquistão, que enfrenta uma crise econômica grave. Investidores externos não apostam no país pela sua instabilidade, que está longe de ser resolvida. O país passa por uma crise na sua balança de pagamentos e possui uma dívida externa elevada. Outro grande problema é uma crise energética.

    Sua saída é a China, histórico parceiro comercial que vem investindo no país e em um corredor de infraestrutura entre ambos. “Esses países já tem laços fortes e vão continuar com eles. Se o FMI [Fundo Monetário Internacional] não quiser ajudar o Paquistão, a China pode ser o único país a ajudá-lo”, diz a cientista política paquistanesa Mariam Mufti, da Universidade de Waterloo.

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