O ex-jogador de críquete Imran Khan, de 65 anos, venceu as eleições legislativas de quarta-feira (25) no Paquistão, conforme os resultados parciais divulgados hoje (27). Mas terá de buscar alianças com outros partidos para conseguir a maioria no Congresso.
O Tehreek-e-Insaf (PTI), partido de Khan, conquistou 114 cadeiras até o momento, de acordo com os dados parciais publicados pela Comissão Eleitoral do Paquistão (ECP), que já apurou 80% dos votos. O número de assentos é quase o dobro do obtido pela segunda legenda mais votada, o PML-N, com 62 assentos. O Partido Popular Paquistanês (PPP), do candidato Bilawal Bhutto-Zardari, terá 43.
Para formar um governo no Paquistão, Khan terá de contar com o apoio de uma maioria de 137 parlamentares. Por enquanto, não está claro se o seu partido conseguirá atingir essa meta. Se não for bem-sucedido, terá de buscar aliados entre os deputados independentes.
Khan se autoproclamou ontem vencedor do pleito, quando apenas metade das urnas havia sido apurada. A campanha eleitoral paquistanesa foi marcada por vários atentados de grupos extremistas, e a eleição é alvo de inúmeras acusações de fraude e de apuração muito lenta dos votos.
A ECP rejeitou as acusações de fraudes apresentadas por vários partidos e atribuiu o atraso na publicação dos resultados a problemas técnicos. “As eleições se deram de maneira equitativa e livre”, proclamou.
Uma organização não-governamental local, a Rede para Eleições Livres e Justas (FAPEN), empregou cerca de 20.000 observadores para o pleito deste ano e fez uma avaliação favorável. “O dia da votação foi melhor administrado, relativamente pacífico e sem muita polêmica até a noite, quando havia preocupações sobre a transparência”, declarou à imprensa seu secretário-geral, Sarwar Bari, que parece ter desconsiderado o atentado que matou 31 pessoas no mesmo dia.
As missões de observadores da União Europeia e da Commonwealth devem publicar ainda hoje seus primeiros relatórios. Na imprensa internacional, porém, a campanha foi considerada como uma das mais “sujas” da história do país, devido à suposta interferência dos militares para favorecer Khan.
Estados Unidos
Análises feitas pela imprensa internacional sugerem que Khan, por ser crítico aos Estados Unidos, pode inflamar ainda mais a relação entre os dois países, abalada desde o governo anterior. Em 1 de janeiro deste ano, o presidente americano, Donald Trump, publicou no Twitter que seu país investiu dinheiro no Paquistão e recebeu “apenas mentiras e enganações”.
“Os Estados Unidos deram ao Paquistão, de maneira insensata, mais de 33 bilhões de dólares em ajuda nos últimos 15 anos, e eles não nos retribuíram com nada além de mentiras e enganos, pensando que nossos líderes são tolos. Eles dão abrigo aos terroristas que caçamos no Afeganistão, com pouca ajuda. Não mais!”, escreveu.
Em defesa de sua eleição, Khan veio à público na noite de ontem e adotou um tom conciliatório, marcado por referências religiosas. “Tivemos sucesso e recebemos um mandato”, disse ele em uma declaração televisiva, na sede de seu partido. As eleições foram “as mais justas e as mais transparentes”, adicionou Khan, que voltou a prometer “um novo Paquistão e um Estado de bem-estar islâmico”.
Realizadas sob um forte esquema de segurança, as eleições de quarta-feira constituíram uma incomum transição democrática entre dois governos civis de um país jovem com um passado marcado por golpes militares. Potência nuclear, o Paquistão esteve dirigido pelas Forças Armadas durante a metade de seus 71 anos de história.
O partido PML-N ainda não reagiu ao discurso de Khan. Seu líder, Shahbaz Sharif, irmão do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, denunciou “fraudes flagrantes que fazem o Paquistão retroceder 30 anos”. O líder do PML-N está atualmente preso por corrupção e não se pronunciou.
(Com AFP)