A Índia é o país mais perigoso do mundo para mulheres, ameaçadas pelo alto risco de sofrerem violência sexual e de serem forçadas ao trabalho escravo. A constatação é de uma pesquisa com 550 especialistas em questões da mulher realizada pela Fundação Thomson Reuters. O Afeganistão e a Síria, países submersos em guerra, são segundo e terceiro colocados no ranking. Em seguida, estão a Somália e a Arábia Saudita.
“Que paradoxo terrível um país que tem feito tanto nas últimas décadas para empoderar as mulheres, por meio do progresso econômico, da educação, da mobilidade social e de oportunidades de emprego, ser ao mesmo tempo percebido como um país onde as mulheres arriscam todos os dias a saúde e a vida e onde a violência baseada no gênero atingiu proporções de pandemia”, escreveu Monique Villa, presidente da Thomson Reuters Foundation, em artigo sobre a posição da Índia na pesquisa para o jornal Hindustan Times.
Em 2011, pesquisa similar apontou a Índia em quarto lugar. A lista tinha o Afeganistão como campeão, seguido pela República Democrática do Congo e pelo Paquistão. O deslocamento da Índia para a primeira posição, em 2018, mostra que as medidas adotadas pelo governo para prevenir a violência contra as mulheres e punir os agressores não foram suficientes. Dados oficiais apontam que os crimes contra as mulheres aumentaram 83% entre 2007 e 2016, quando chegou-se à estimativa de quatro estupros por hora no país.
No ano seguinte, o mundo todo ficou chocado com o caso do estupro coletivo e tortura de uma estudante de 23 anos em um ônibus de Nova Délhi. A jovem Jyoti Singh Pandey morreu em decorrência das agressões. Na época, o combate à violência contra a mulher tornou-se prioridade do governo indiano.
“A Índia tem mostrado uma extrema desatenção e desrespeito às mulheres. Estupros, estupros pelos maridos, ataques e abusos sexuais e infanticídios de meninas não têm diminuído”, afirmou Manjunath Gangadhara, do governo do Estado de Karnataka. “A economia que cresce mais rapidamente no mundo e que lidera os segmentos espacial e tecnológico é envergonhada pela violência contra a mulher.”
O Ministério para Mulheres e Desenvolvimento da Criança da Índia não quis comentar a pesquisa. A Comissão Nacional para a Mulher “disse não serem os resultados representativos de um país” com 1,3 bilhão de habitantes.
No início deste ano, a Índia adotou a pena de morte para os condenados pelo estupro e morte de uma menina muçulmana de 12 anos no Estado de Jammu e Cashemira. O governo também aumentou as penas de prisão para casos de estupro a mulheres mais velhas.
Segundo no ranking, o Afeganistão também aparece entre os piores países em questões de assistência médica às mulheres e de violência relacionada ao conflito. O ministro afegão de Saúde Pública, Ferozuddin Feroz, disse que a piora da situação de segurança tornou a vida mais difícil para as mulheres no país, onde os militantes do Talibã dominam vastas áreas.
As afegãs enfrentam, além da violência baseada em gênero e do abuso sexual, o analfabetismo, a pobreza e outras violações dos direitos humanos. “Hoje, os ataques suicidas e o conflito armado são a terceira maior causa de mortes e de ferimentos graves no Afeganistão”, afirmou o ministro. “Em vez de focarmos nossas despesas em saúde materna e na nutrição, nós gastamos com o tratamento de traumas.”
Os sete anos de guerra civil na Síria, terceira colocada no ranking, aumentaram as preocupações dos especialistas com o acesso das mulheres à assistência médica e com as diferentes formas de violência, entre as quais a sexual.
“As forças do governo cometem violência sexual. Os casos de violência doméstica e de casamento de meninas estão crescendo, e mais mulheres estão morrendo no parto. Essa tragédia está longe de acabar”, afirmou Maria Al Abdeh, diretora-executiva da organização não-governamental Mulheres Agora para o Desenvolvimento.
A pesquisa com os 550 especialistas baseou-se em na pergunta sobre quais seriam os cinco dos 193 países das Nações Unidas mais perigosos para as mulheres e qual o país foi o pior em termos de assistência médica, recursos econômicos, práticas culturais ou tradicionais, violência e abuso sexual, violência não-sexual e tráfico humano.
(Com Reuters)