Desafiada pelas declarações e provas apresentadas pelo primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou nesta terça-feira “avaliar todas as informações disponíveis” sobre as atividades nucleares do Irã. Assinalou, entretanto, que seus especialistas concluíram, em 2015, que Teerã havia abandonado completamente suas tentativas para fabricar uma bomba nuclear desde 2009.
Um porta-voz da Agência declarou hoje, em Viena, que o organismo “não debate em público detalhes” relacionados a suas investigações. A AIEA é organismo internacional encarregado de vigiar o programa nuclear do Irã,
Em todo caso, lembrou que a organização concluiu em 2015 que os programas do Irã para tentar fabricar uma bomba nuclear foram encerrados há quase uma década e não foram além de estudos científicos e de viabilidade, além de pesquisas adquirir certas competências e capacidades técnicas.
Netanyahu apresentou na segunda-feira documentos que supostamente mostram que o Irã tem um programa nuclear militar clandestino e garantiu que Teerã está enganando o mundo, em referência ao grande acordo nuclear de 2015, verificado e vigiado pela AIEA.
A Rússia, porém, pediu nesta terça-feira que seja comprovada a veracidade desses documentos. “Considero que isto não seja motivo para convocar uma reunião da comissão da AIEA, já que primeiro é preciso analisar esses 100.000 documentos para comprovar se são verídicos”, disse Mikhail Ulyanov, embaixador russo perante as organizações internacionais em Viena, aos veículos de imprensa locais.
Benjamin Netanyahu rebateu a posição de Moscou ao anunciar hoje que os líderes da Alemanha, Reino Unido e França aceitaram sua proposta de enviar delegações a Israel para investigar a documentação sobre a atividade nuclear iraniana. Ele disse ter conversado também com os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, , Xi Jinping, mas eles ainda não decidiram se aceitarão o convite.
Programa iraniano
O porta-voz da AIEA, Frederik Dahl, destacou nesta terça-feira que o diretor-geral da organização, Yukiya Amano, apresentou em dezembro de 2015 sua análise final sobre os passados e presentes assuntos pendentes do programa nuclear do Irã.
Nesse relatório, os especialistas da organização chegaram à conclusão de que, até o final de 2003, o Irã dispunha de uma “estrutura organizativa para a coordenação de várias atividades relevantes para desenvolver uma bomba nuclear”. “Apesar de algumas atividades seguirem depois de 2003, já não faziam parte do esforço coordenado”, explicou Dahl.
“O mesmo relatório da AIEA destaca não haver indícios críveis de atividades relevantes para o desenvolvimento de explosivos nucleares no Irã depois de 2009”, acrescentou o porta-voz. “Baseado neste relatório do diretor-geral, a Junta de Governadores (órgão executivo da AIEA) declarou que suas considerações em torno deste assunto estavam encerradas.”
Durante anos, após uma denúncia de grupos opositores ao regime iraniano, em 2003, os especialistas da AIEA procuraram o Irã para esclarecer as alegações de que seu programa nuclear teria fins militares. Mas só depois que o país assinou, em julho de 2015, o histórico acordo com seis potências (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), a AIEA recebeu acesso e informações relevantes para investigar a fundo esses fatos.
Israel criticou desde o primeiro momento o acordo com o Irã, que limita durante pelo menos uma década amplos aspectos de seu programa nuclear, incluindo a produção de urânio enriquecido.
Junto com outros críticos do acordo, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a Arábia Saudita, grande inimigo do Irã no Golfo Pérsico, os israelenses advertem que a República Islâmica nunca abandonou a ideia de uma bomba, ou que poderia retomá-la após o final do acordo.
(Com EFE)