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Irã: o que muda após as eleições presidenciais?

Nenhum dos principais candidatos parece capaz de liderar uma abertura política e desenvolvimento nacional significativos

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 Maio 2017, 14h17

As eleições no Irã estão marcadas para a próxima sexta-feira, mas ao que tudo indica nenhum dos principais candidatos terá vontade ou capacidade de intensificar o ritmo da abertura política e o desenvolvimento nacional. O atual presidente, Hassan Rohani, é o representante da ala mais liberal na corrida, mas assim como em seu primeiro mandato, deve ficar à margem das principais decisões políticas do líder supremo, caso seja eleito.

“A natureza do sistema iraniano é o presidente ser subordinado ao líder supremo. E esse será o caso, não importa quem ganhe as eleições”, diz o professor de Relações Internacionais da Universidade de Birmingham, Scott Lucas. Rouhani ganhou em 2013 com promessas de maior liberdade de expressão, abertura internacional e aproximação com o Ocidente. Contudo, assim como era esperado, não conseguiu realizar muito daquilo que já não estava previsto na agenda política tradicional do país.

Ebrahim Raisi se tornou o principal concorrente para o presidente após a desistência do prefeito de Teerã Mohammad Baqer Qalibaf. A propostas do juiz conservador que entrou na disputa com total apoio do líder supremo, Aiatolá Ali Khamenei, vão de encontro com a ideologia isolacionista iraniana.

A vitória de Raisi significaria, portanto, a manutenção ou até a intensificação das políticas do atual governo conservador. “Se Raisi ganhar as eleições, os conservadores e ultraconservadores recuperarão o poder de quase todas as partes do sistema iraniano, que se tornará muito mais restrito”, diz Scott Lucas.

O candidato, que é cotado como substituto de Khamenei, já foi procurador geral do Irã e tem um histórico controverso. Em 1988, Raisi foi um dos juízes que ordenaram a execução de milhares de prisioneiros da oposição. O caso é um dos maiores tabus da história pós-revolucionária iraniana e nunca foi investigado formalmente.

Porém, ao contrário do que muitos acreditam, Hassan Rohani também não foi bem-sucedido em defender o cumprimento dos direitos humanos e liberdades individuais durante seu governo. Segundo relatórios da Human Rights Watch e da Anistia Internacional, o atual presidente não elevou os índices iranianos de respeito aos direitos civis e políticos como havia prometido. As taxas de execuções por condenação a pena de morte continuaram altas, centenas de sites e redes sociais continuam bloqueadas e a inteligência nacional monitora os internautas regularmente, restringindo a liberdade de expressão, associação e crença.

Quando se trata de política externa, o clérigo também não se mostrou tão moderado. Durante seus cinco anos no cargo, o Irã se tornou ainda mais combativo em suas interferências no Oriente Médio. Dezenas de milhares de soldados foram enviados para o Iraque e até a Guarda Revolucionária iraniana se juntou à luta contra os rebeldes na Síria. Rohani seguia a política externa defendida por Khamenei, que poderia se tornar ainda mais agressiva com um conservador como Raisi ao seu lado.

Acordo nuclear

O cumprimento do acordo nuclear acertado entre o Irã, os Estados Unidos, a União Europeia e outras cinco potências em 2015 também pode ser afetado pelo resultado destas eleições. Rohani estava no conselho que liderou as negociações e celebra o fim das sanções como razão essencial para a regeneração da economia iraniana.

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Apesar de negar pretender desfazer ou violar o pacto, Raisi não perde a oportunidade de argumentar que seria possível recuperar o crescimento econômico mesmo sem a sua implementação. Assim como o líder supremo, também destaca o perfil desleal dos Estados Unidos e acredita que o Ocidente usa as sanções para manipular o Irã. “Mesmo prometendo não eliminar o acordo, os discursos do candidato deixam muitas pessoas apreensivas em relação ao modo como se comportará caso assumam o poder”, diz a professora iraniana de ciência política Sussan Siavoshi, da Trinity University.

Economia

O principal desafio enfrentado pelos candidatos destas eleições é o desenvolvimento econômico do país. O atual presidente acredita que sua administração ajudou a remodelar a economia iraniana. A inflação caiu mais de 25% desde 2013 e o PIB chegou a crescer 3,8%. Pela primeira vez em anos falou-se sobre a possibilidade de investimentos estrangeiros.

Seus concorrentes, por outro lado, destacam durante seus discursos que o crescimento não foi revertido para o bem-estar social da população: as taxas de desemprego permanecem altas (em torno de 12%) e a renda média da população mais pobre não cresceu. Prometem uma melhora que beneficie diretamente a população e ultrapasse o crescimento das exportações.

Porém, não importa qual seja o resultado da votação, o Irã ainda enfrenta sanções e uma política externa receosa. Mudanças mais profundas na economia e no desenvolvimento social dependem de uma transformação na visão política geral do país e de uma abertura significativa para o mercado exterior, inconcebíveis por enquanto, não importa quem seja eleito como novo líder. “Existem certos assuntos e políticas que o presidente não pode mudar, não importa quem seja, se o líder supremo ou outras forças internas não estiverem de acordo”, diz Siavoshi.

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