O governo do Irã informou nesta segunda-feira, 17, que vai ultrapassar em 10 dias os limites previamente estabelecidos para a estocagem de urânio enriquecido, prejudicando esforços da União Europeia (UE) para salvar o acordo nuclear internacional de 2015, enquanto crescem as tensões militares no Oriente Médio.
Teerã irá superar o limite especificado no pacto para seus estoques de urânio enriquecido até o próximo dia 27 e ampliará ainda mais sua produção no começo de julho, segundo Behrouz Kamalvandi, porta-voz da agência atômica iraniana.
Kamalvandi disse ainda que o Irã poderá reverter a decisão se países europeus retomarem o comércio com o país, reduzindo o impacto de sanções dos Estados Unidos impostas ao regime iraniano.
O Irã havia dado à UE prazo até 7 de julho para mostrar que poderia ajudar a economia iraniana a reduzir os efeitos das sanções americanas.
O anúncio do governo iraniano vem dias depois de dois navios petroleiros sofrerem ataques no Golfo de Omã, na última quinta-feira, 13. Estados Unidos e Arábia Saudita acusam o Irã de estar por trás dos ataques, alegação que foi refutada por Teerã.
Em reunião de ministros de Relações Exteriores da UE, diplomatas pediram uma investigação internacional sobre o ataque da semana passada. Na ocasião, eles alertaram que a eventual conclusão de que o Irã é culpado complicaria esforços para conter tensões regionais.
Tensão
Após a saída de Washington, Teerã ameaçou deixar de cumprir progressivamente o acordo, a não ser que os demais sócios, em particular os europeus, ajudem o país a evitar as novas sanções econômicas.
O Irã deu prazo de dois meses aos europeus, chineses e russos para concretizar os seus compromissos, em particular nos setores petroleiro e bancário.
Sob o acordo, Teerã está autorizado a estocar até 300 quilos de urânio enriquecido e água pesada produzida nesse processo, exportando qualquer excedente. O governo iraniano afirmou, entretanto, que o teto não se aplica mais, já que as exportações foram muito prejudicadas pelas sanções americanas.
O pacto também estabelece que o país está autorizado a enriquecer urânio em até 3,67% – uma taxa suficiente para a geração de energia nuclear para uso civil, mas bem abaixo dos 90% usado para a fabricação de armas. Antes do acordo, o Irã enriquecia urânio a 20%.
No final de maio, contudo, o governo iraniano afirmou ter quadruplicado sua produção de urânio enriquecido, depois de suspender alguns compromissos firmados no acordo nuclear internacional.
Há uma semana, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou estar “preocupada com a tensão crescente” envolvendo o programa nuclear iraniano. “Espero que maneiras possam ser encontradas para reduzir a tensão atual por meio do diálogo”, afirmou em um discurso Yukiya Amano, o diretor do organismo das Nações Unidas.
(Com Estadão Conteúdo)