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Iraque contabiliza 31 mortos em três dias de protestos

Os atos exigem a renúncia dos políticos corruptos e clamam por mais empregos para os jovens

Por AFP 4 out 2019, 03h37

O Iraque viveu, nesta quinta-feira 3, seu dia mais sangrento em uma semana de protestos, durante os quais morreram 31 pessoas em uma violência sem precedentes em confrontos entre manifestantes e forças de segurança.

Os atos exigem a renúncia dos políticos corruptos e clamam por mais empregos para os jovens, um movimento que foi ampliado para grande parte do sul do país, apesar de um toque de recolher.

A mobilização representa um grande teste para o governo do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, que completará um ano no cargo.

Nesta quinta, as forças especiais entraram em ação em Bagdá com veículos blindados para conter a multidão, enquanto a polícia atirava para o alto com munição real. Os feridos eram carregados em “tuk-tuks” (triciclos motorizados) pelos colegas.

À noite, o premiê Adel Abdel Mahdi pronunciou uma mensagem em rede de televisão na qual defendeu sua gestão governamental e a administração política de uma crise “que ameaça destruir o Estado inteiro”.

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Na mensagem, o primeiro-ministro não se dirigiu diretamente aos manifestantes, mas prometeu “pensões às famílias sem recursos”.

Mahdi, no entanto, pediu mais tempo para aplicar as reformas prometidas quando chegou ao poder.

No entanto, enquanto a televisão transmitia a mensagem do primeiro-ministro, tiros eram ouvidos no centro de Bagdá.

Nas ruas, Ali, um jovem de 22 anos, formado e desempregado, advertiu: “continuaremos até a queda do regime”. “Quero trabalhar, quero poder me casar, mas só tenho 250 dinares no bolso (menos de 20 centavos de euro)”, disse à AFP, denunciando que, enquanto isso “as autoridades estão levando milhões”.

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De bengala, enquanto observava os confrontos, o aposentado Abu Jaafar explicou que se aproximou “em apoio aos jovens”.

“Por que os policiais estão atirando em outros iraquianos como eles? Também sofrem como nós. Deveriam nos ajudar e nos proteger”, frisou.

O descontentamento social gerado pela corrupção, pelo desemprego e por serviços públicos insuficientes resultou em um movimento espontâneo, sem o comando de um partido, ou de um líder político ou religioso, algo inédito no Iraque.

Os três dias de manifestações deixaram 31 mortos, entre os quais há policiais, e mais de mil feridos, segundo um balanço atualizado.

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Em Nassíria (sul), sete manifestantes morreram e dezenas ficaram feridos só nesta quinta-feira. O protesto virou uma batalha campal nas avenidas que levam à Praça Tahrir, local emblemático para os manisfestantes.

Toque de recolher

Manifestantes de um lado e tropa de choque e militares do outro entraram em confronto na cidade com nove milhões de habitantes, em toque de recolher, e os funcionários públicos – a maioria dos trabalhadores do país – foram chamados a ficar em casa, segundo um fotógrafo da AFP.

Para fazer recuar milhares de manifestantes que chegaram ao centro da capital em caminhões agitando bandeiras, forças de segurança dispararam munição letal de veículos blindados.

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Na Praça Al Tayaran, os manifestantes investiram contra estes veículos, incendiando dois, informou um fotógrafo da AFP.

As autoridades impuseram um toque de recolher em Diwaniya, 150 km ao sul de Bagdá, tentando forçar o fechamento de estabelecimentos comerciais e escritórios, destacou um jornalista da AFP. Mas, tais medidas, tomadas na véspera em várias partes do país, sobretudo em Bagdá, não tiveram efeito.

Estas manifestações constituem uma prova maior para o governo de Adel Abdel Mahdi, que completará um ano no fim de outubro.

Até agora, o governo só se expressou através de comunicados, elogiando “a moderação das forças armadas” e anunciando o toque de recolher em Bagdá, enquanto seu gabinete informava ter se reunido com “representantes dos manifestantes”.

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As autoridades, que denunciam “sabotadores” e propõem aos manifestantes usar um número de telefone gratuito para apresentar suas demandas, parecem ter optado pela firmeza, uma decisão criticada nesta quinta-feira pela Anistia Internacional (AI).

A ONG exortou Bagdá a “ordenar imediatamente às forças de segurança que deixem de usar a força, particularmente letal e excessiva” e que se restabeleça a conexão com a internet, cortada em grande parte do país, razão pela qual as redes sociais se tornaram quase inacessíveis.

Chamado à mobilização

Os manifestantes afirmam não ter líderes e só reivindicam serviços públicos funcionais após décadas de escassez de energia elétrica e água potável, empregos para 25% dos jovens desempregados e o fim da corrupção, que em 16 anos devorou mais de 410 bilhões de euros.

Mas uma convocação do líder xiita Moqtada Sadr – que se uniu à coalizão governista, mas ameaça frequentemente rompê-la – poderia mudar a situação.

Na quarta-feira, pediu a vários partidários, que já paralisaram o país em 2016 com protestos em Bagdá, que organizem manifestações pacíficas. Se o fizerem e decidirem passar a noite nas praças de Bagdá e do sul do Iraque, a queda de braço será mais intensa.

Enquanto Bagdá está em chamas e as manifestações e a violência afetam as províncias de Najaf, Missan, Zi Qar, Wassit, Diwaniyah, Babilônia e Basra, a calma prevalece no norte e no oeste de Bagdá, majoritariamente sunita e devastado pela guerra contra o grupo Estado Islâmico (EI), assim como no Curdistão autônomo.

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