Em tom duro, o governo de Israel instou nesta segunda-feira, 2, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov a dar “esclarecimentos” por uma declaração sobre Adolf Hitler e convocou o embaixador russo em Tel Aviv para maiores detalhes do caso. Em entrevista a uma emissora italiana no domingo, o chanceler afirmou que o ditador nazista tinha raízes e “sangue judeu”, provocando indignação de autoridades israelenses e líderes judaicos.
“É uma declaração imperdoável e escandalosa, um terrível erro histórico, e esperamos um pedido de desculpas”, disse o ministro das Relações Exteriores de Israel, Yair Lapid, em publicação no Twitter.
https://twitter.com/yairlapid/status/1521024411129765888
A fala de Lavrov ao programa italiano Zona Bianca aconteceu dias após Israel marcar o Dia da Memória do Holocausto, uma das ocasiões mais solenes do calendário israelense.
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Questionado sobre como a Rússia pode alegar que está lutando para “desnazificar” a Ucrânia quando o próprio presidente do país, Volodymyr Zelensky, é judeu, Lavrov afirmou que “Hitler também tinha sangue judeu”, portanto, a origem judaica do líder ucraniano “não significa absolutamente nada”.
O ministro russo então acrescentou que “sábios” representantes do grupo étnico e religioso dizem que “os maiores antissemitas são os próprios judeus”.
A declaração do chanceler do governo de Vladimir Putin foi recebida com indignação em todo o espectro político de Israel. O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, exigiu retratação de Moscou e disse que “tais mentiras visam a culpar os próprios judeus pelos crimes mais terríveis da história e, assim, libertar os opressores dos judeus de sua responsabilidade”.
O chefe do Memorial do Holocausto de Israel, Dani Dayan, também condenou as afirmações de Lavrov.
“A maioria de seus comentários são absurdos, delirantes, perigosos e merecedores de qualquer condenação”, disse o israelense.
Tentando justificar sua operação militar, a Rússia alegou que um de seus objetivos era “desnazificar” a Ucrânia, acusando o país vizinho de estar “mergulhado na ideologia nazista”, da qual Hitler se valeu e provocou o genocídio de 6 milhões de judeus no Holocausto na Segunda Guerra Mundial.
Comparações com o nazismo, no entanto, têm sido feitas por ambos os lados da guerra. No dia do início da invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro, a conta oficial do governo ucraniano no Twitter publicou uma caricatura em que Hitler estaria aparentemente dando aprovação a Putin.
Em publicações em suas redes sociais, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também comparou o ataque russo aos feitos pela Alemanha durante a II Guerra. Segundo ele, “a Rússia atacou traiçoeiramente nosso Estado pela manhã, como a Alemanha nazista fez”.
“A Rússia embarcou em um caminho do mal, mas a Ucrânia está se defendendo e não desistirá de sua liberdade, não importa o que Moscou pense”, declarou.