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Israelenses e palestinos, 50 anos depois

A solução do conflito continua tão distante quanto era meio século atrás

Por Angela Nunes 5 jun 2017, 18h10

No dia em que se celebram os 50 anos da Guerra dos Seis Dias, o processo de paz entre israelenses e palestinos parece tão distante quanto era meio século atrás. Nesta segunda-feira, após uma semana marcada por declarações controversas de ambos os lados, o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, endureceu o tom das críticas contra Israel. “A ocupação é uma vergonha para a comunidade internacional”, disse Erekat. “Não queremos outros 50 anos de impunidade e cumplicidade com a sistemática negação dos nossos direitos”, completou.

A ocupação dos territórios palestinos por Israel segue como o principal nó nas negociações. Além de mais de 400.000 mil judeus viverem hoje na Cisjordânia e outros 200.000 em Jerusalém Oriental, o que por si só dificulta qualquer possível iniciativa de desocupação, os escassos recursos da região são um ponto fundamental das ambições territoriais. Israel é abastecida principalmente pelo rio Jordão, localizado no lado palestino ocupado. “A disputa pela água é um complicador nas negociações”, afirma Marcelo Suano, fundador do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (CEIRI).

Na semana passada, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descartou a possibilidade de retirada, o que provocou reações duras também da Autoridade Nacional da Palestina (ANP). Para a ANP, nenhum consenso é possível enquanto o Estado judeu mantiver o controle militar da Cisjordânia. O porta-voz da presidência palestina, Nabil Abu Rudeineh, reafirmou que a paz e a segurança só serão obtidas com a retirada completa israelense dos territórios palestinos, ocupados em 1967. “Não aceitaremos nenhum acordo que mantenha qualquer soldado israelense em terras do Estado independente da Palestina”, declarou.

Um dia antes, Netanyahu afirmou que Israel não se retiraria do território. “Qualquer acordo de paz incluirá controle militar na Cisjordânia”, disse. O primeiro-ministro israelense irritou os palestinos ao realizar, no domingo, dia 28, a reunião semanal com seus ministros nos subterrâneos do Muro das Lamentações – localizado na parte oriental de Jerusalém, capturada durante a guerra.

“O governo israelense decidiu marcar os 50 anos de ocupação e começo do mês sagrado do Ramadã enviado uma clara mensagem ao povo palestino de que as violações sistemáticas dos seus direitos inalienáveis continuarão. A reunião na zona oriental ocupada de Jerusalém é uma tentativa de normalizar a ocupação, opressão e colonização sobre a terra e as pessoas da Palestina”, declarou o secretário-geral da OLP.

Teleférico da discórdia

Durante a incomum reunião de ministros israelenses realizada nos túneis do Muro das Lamentações, o governo israelense aprovou a construção de um teleférico que passará pela zona oriental de Jerusalém e ligará o Muro das Lamentações ao Monte das Oliveiras. O projeto será concluído em 2021 e, segundo palestinos, contribui para a “judaização” de Jerusalém Oriental.

Em comunicado, o Ministério de Exteriores palestino condenou a construção do teleférico e denunciou a expansão dos assentamentos colonizadores na cidade e túneis, elevadores e passagens para conectar o Muro das Lamentações ao bairro judeu. “Estes procedimentos incluem a alocação de milhões de dólares para financiar projetos de ‘judaização’ no leste de Jerusalém”, afirmou o ministério na nota divulgada pela agência palestina “Wafa”.

A recaída

Para os árabes, que nomearam a criação do Estado de Israel, em 1948, de “Nakba” (catástrofe), a Guerra dos Seis Dias é conhecida como “Naksa” (recaída), em função da ocupação de seus territórios e consequente fuga de 50.000 palestinos.

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Israel manteve a ocupação de todos os territórios conquistados até 1979, quando a devolução do Sinai, mediada pelos Estados Unidos, marcou um acordo de paz com o Egito. Nos dois anos seguintes, no entanto, Israel expandiu suas fronteiras e anexou Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã, ocupadas desde a Guerra dos Seis Dias.

Apesar da comunidade internacional jamais ter reconhecido tal ação, o parlamento israelense aprovou em 1980 uma resolução estabelecendo que Jerusalém unificada é a “capital eterna e indivisível do Estado de Israel”.

Em 2005, depois de mais de quase 40 anos, Israel desocupou a Faixa de Gaza, com a retirada das tropas e de 8.000 colonos. O país mantém, no entanto, o controle de fronteiras e impõe um rigoroso bloqueio ao território.

Para Marcelo Suano, a solução de dois Estados é a mais promissora possibilidade de paz na região, uma vez que o principal objetivo de Israel seria o reconhecimento como nação. “Isso já está quase concluído. A questão agora é como estabelecer garantias de segurança para os israelenses, mas, também, em como serão dadas condições justas de vida aos palestinos em seu Estado”, afirma Suano.

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