Japão é ‘dominado por homens velhos’, diz prefeita de distrito em Tóquio
Satoko Kishimoto, primeira mulher eleita para governar um distrito da capital japonesa, quer 'mudança radical' onde 98% dos líderes locais são homens
Satoko Kishimoto, que tornou-se recentemente a primeira prefeita do distrito Suginami, de Tóquio, prometeu nesta quinta-feira, 21, que vai desafiar a política dominada por homens no Japão e trazer “mudanças radicias”.
Kishimoto, aos 47 anos, foi eleita prefeita do distrito de Suginami no mês passado, tornando-se a primeira mulher a liderá-lo em seus 90 anos de história. A candidata progressista venceu o candidato conservador – por apenas 187 votos –, apesar de ter retornado recentemente ao Japão depois de uma década morando na Bélgica.
Em uma de suas primeiras aparições públicas desde que assumiu o cargo, Kishimoto disse que decidiu se candidatar para “promover a democracia” em um país com baixos níveis de representação feminina e defender causas próximas a seu coração, incluindo direitos trabalhistas e meio ambiente.
“Há potencial para trazer mudanças radicais”, disse Kishimoto, que aperfeiçoou suas habilidades de campanha como coordenadora de projetos do Transnational Institute, uma organização internacional sem fins lucrativos com sede em Amsterdã.
“Quando olhei para Suginami e o que as pessoas locais enfrentavam em termos de serviços públicos, creches e planejamento urbano, pensei que algo tinha que mudar e acreditei que poderia fazer algo com eles e por eles.”
Kishimoto, que deixou o Japão aos 25 anos para viver na Holanda antes de se estabelecer na cidade belga de Leuven com o marido e os dois filhos, também tem como objetivo diminuir a disparidade de gênero na política de Tóquio. Ela começa com Suginami, um distrito com uma população de 570.000 que ela descreveu como o Japão em microcosmo.
“A política japonesa é dominada por velhos”, disse Kishimoto em entrevista coletiva no Clube de Correspondentes Estrangeiros do Japão, citando dados que mostram que a idade média dos prefeitos dos 23 distritos de Tóquio era de 67 anos, com 40% na faixa dos 70 anos. Em todo o país, as mulheres representam apenas 2% dos líderes políticos de mais de 1.700 municípios.
Em sua própria ala, nenhum dos chefes dos 10 maiores departamentos são mulheres, e os cargos políticos mais importantes abaixo do de prefeito são ocupados por homens. “Suginami representa basicamente uma organização típica japonesa”, disse, citando o baixo número de mulheres japonesas em cargos altos no mundo corporativo.
Nas últimas eleições, as mulheres japonesas tiveram uma pequena vitória: conquistaram uma proporção recorde de assentos no pleito para a câmara alta no início deste mês.
As candidatas ganharam 35 das 125 cadeiras em disputa, elevando sua representação geral na Câmara para 26%. Cerca de um terço dos candidatos nas eleições de 10 de julho eram mulheres, a maior proporção desde que as mulheres japonesas conquistaram o direito de votar e se candidatar ao parlamento em 1946.
Mas a terceira maior economia do mundo se sai mal quando se trata de mulheres na política, ocupando o 163º lugar entre 190 países, de acordo com a União Interparlamentar Internacional.
As mulheres representam apenas 9,9% dos parlamentares na câmara mais poderosa, em comparação com quase 50% na Nova Zelândia e 34,7% no Reino Unido. Em seu índice de desigualdade de gênero de 2021, o Fórum Econômico Mundial colocou o Japão em 147º lugar em empoderamento político entre 156 países.
“A primeira coisa que tenho a fazer é tornar o ambiente de trabalho da cidade mais confortável para as mulheres”, disse Kishimoto, que fez campanha contra projetos de obras públicas caras e em apoio a melhores serviços de creche e condições para trabalhadores de baixa remuneração – a maioria dos quais quem são as mulheres.
“Mas a realidade é que vai levar tempo. Eu quero ver mais mulheres em cargos de gestão, mas há uma hierarquia enorme e as mulheres ainda não estão em condições de avançar”, completou.