Jeffrey Epstein assinou testamento dois dias antes de sua morte
Milionário americano era acusado de pedofilia e de comandar uma rede de exploração sexual de menores; entenda o caso
O magnata Jeffrey Epstein, encontrado morto há uma semana dentro da cela de uma prisão federal em Manhattan, nos Estados Unidos, onde aguardava julgamento por tráfico e abuso sexual de menores, assinou um testamento dois dias antes de sua morte, segundo a imprensa americana.
De acordo com o jornal The New York Post, o patrimônio de Epstein estava avaliado em mais de 577 milhões de dólares (cerca de 2,35 bilhões de reais), incluindo mais de 56 milhões de dólares (228 milhões de reais) em dinheiro.
Nenhum beneficiário foi identificado no testamento. Todos os bens dele foram colocados em um fundo de investimento criado por ele, chamado de “The 1953 Trust”, em referência ao ano de nascimento de Epstein.
Os documentos do testamento foram apresentados no dia 8 de agosto nas Ilhas Virgens dos Estados Unidos, região em que Epstein tinha duas ilhas.
Uma das ilhas de Epstein foi apelidada de “Ilha do Pedófilo”, em referência às acusações de abuso sexual e tráfico sexual de menores que o magnata enfrentava na Justiça americana.
A morte
A morte do magnata, que estava detido em um dos centros penitenciários mais seguros do país, causou revolta nos Estados Unidos, suscitando dúvidas e teorias da conspiração.
O milionário foi encontrado morto em uma cela do Centro Metropolitano de Correções em Manhattan em 10 de agosto. A necropsia realizada no corpo determinou que Epstein se suicidou por enforcamento.
A confirmação do suicídio está longe de responder todas as perguntas sobre como um dos presos de mais alto perfil do país pôde ter se matado.
Funcionários anônimos citados pelo jornal The New York Times disseram que ele usou seus lençóis para se enforcar. As mesmas fontes afirmaram ainda que os guardas que vigiavam sua cela dormiram por três horas, quando na verdade deveriam fazer rondas a cada meia hora.
O procurador geral dos Estados Unidos, William Barr, lançou duas investigações que revelaram “sérias irregularidades” na prisão. O diretor da instalação foi transferido e os dois guardas encarregados de vigiar Epstein suspensos.
Os advogados de Epstein não ficaram satisfeitos “com as conclusões” dos médicos forenses e informaram que farão sua própria investigação sobre a morte, exigindo o acesso às gravações de vídeo da prisão.
“Não há dúvidas de que as autoridades violaram seus próprios protocolos”, afirmaram os advogados, condenando as “duras, inclusive medievais, condições da prisão”.
Dias antes de sua morte, em 23 de julho, Epstein havia sido encontrado jogado no chão de sua cela com marcas no pescoço, após uma aparente tentativa de suicídio. Depois deste episódio, foi colocado sob vigilância especial, mas só até 29 de julho, quando retornou ao regime convencional.
Embora as autoridades tenham apontado um aparente suicídio, muitos insinuaram que ele havia sido assassinado para proteger as muitas personalidades com quem ele se relacionava, como o filho da rainha Elizabeth II, príncipe Andrew, o ex-presidente americano Bill Clinton e o atual ocupante da Casa Branca, Donald Trump.
Abuso sexual e tráfico de menores
Epstein começou a ser investigado em 2005 por pedofilia, em um caso que depois se expandiu para acusações de uso de prostitutas menores de idade e tráfico sexual de menores.
Acredita-se que o magnata tenha recrutado dezenas de meninas, algumas delas com menos de 15 anos de idade, e as levado para suas propriedades para sessões de massagens, durante as quais abusava das menores.
Em 2008, fechou um acordo de leniência com a Procuradoria da Flórida e foi condenado a apenas 13 meses de prisão após se declarar culpado de utilizar prostitutas menores de idade. Mas o caso foi reaberto, e o milionário acabou preso novamente em julho deste ano sob acusações federais de tráfico sexual de menores na Flórida e em Nova York.
A repercussão do caso Epstein foi responsável pela renúncia do ex-secretário do Trabalho, Alexander Acosta, no início de julho. Acosta era procurador federal na Flórida e foi o encarregado do acordo de leniência firmado em 2008, que muitos consideraram como vantajoso para o empresário.
Recentemente, novas revelações feitas pelo jornal The New York Times tornaram o cenário ainda mais inusitado. Segundo a publicação, Epstein tinha um plano de engravidar 20 mulheres e criar “nova raça humana pós-extinção” com seu DNA em uma fazenda no Novo México.
Conexões e amizades
O caso do empresário repercutiu ainda mais no noticiário internacional por conta das conexões de Epstein com políticos americanos e celebridades. Além do príncipe Andrew, Bill Clinton e Donald Trump, também estão na lista o ator Kevin Spacey, o comediante Chris Tucker, o diretor Woody Allen, entre outros.
O milionário costumava fazer grandes festas em suas propriedades e convidar as personalidades para passar finais de semana em suas ilhas particulares. Há muita especulação de que alguns dos seus amigos estivessem, inclusive, envolvidos nos abusos. Epstein, contudo, conseguiu minimizar ao longo dos anos o impacto das investigações e manter os detalhes do caso em segredo.
Uma peça-chave nas investigações conduzidas pela polícia atualmente é a socialite Ghislaine Maxwell, filha do falecido magnata do setor de mídia Robert Maxwell e quem Epstein considerava sua “melhor amiga”. Ao que tudo indica, a inglesa de 57 anos teve um papel fundamental no recrutamento das jovens menores abusadas. E de acordo com o jornal The Washington Post, as autoridades estão com dificuldade para localizá-la.
Desde a morte de Epstein, uma série de teorias sobre sua morte começaram a surgir na internet, muitas delas apontando os políticos e celebridades envolvidos com o milionário ao longo dos anos como responsáveis por encomendar seu assassinato. Entre os principais alvos das especulações estão Bill Clinton, Donald Trump e até o fundador da Microsoft, Bill Gates.