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Joe Biden é eleito presidente dos Estados Unidos

Democrata herda governo muito criticado por sua gestão na pandemia de coronavírus e precisará comandar difícil projeto de retomada econômica

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 mar 2021, 08h25 - Publicado em 7 nov 2020, 13h30
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  • Joe Biden foi confirmado como o ganhador das eleições no estado da Pensilvânia, segundo projeções da imprensa norte-americana. Com isso, o democrata já pode ser considerado o 46º presidente da história dos Estados Unidos. “Serei um presidente para todos os americanos”, escreveu ele nas redes sociais.

    Biden acumulou 279 delegados no Colégio Eleitoral, com a vitória na Pensilvânia e em Nevada – mais do que os 270 necessários para se consagrar o vencedo. Na Pensilvânia, estado que costuma ser decisivo nos pleitos por alternar entre candidatos democratas e republicanos e dar ao seu ganhador 20 delegados, Biden alcançou mais de 30.000 votos de vantagem em relação a Donald Trump. Com 99% da apuração concluída, o democrata tem 3.345.906 votos, enquanto o republicano está com 3.311.448.

    Os estados do Arizona, Nevada, Geórgia, Carolina do Norte e Alaska não encerraram a contagem ainda. As previsões apontam para uma vitória do democrata nos três primeiros, e de Donald Trump nos dois últimos. Porém, diante dos resultados recentes, o republicano não tem mais chances de vencer.

    A vitória de Biden no Arizona já foi dada como certa pela agência de notícias Associated Press, pelo The New York Times, pela emissoras Fox News e CNN, e outros veículos da imprensa americana, ainda que a apuração esteja em 86% das urnas.

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    Aos 77 anos, o ex-vice-presidente do governo de Barack Obama chega ao mais alto posto da política americana com uma campanha totalmente contrária a de seu oponente e agora antecessor Donald Trump. Com propostas que vão do aumento do salário mínimo a um investimento pesado em pesquisa e tecnologia para combater as mudanças climáticas, Biden assumirá a Casa Branca em janeiro com muitos desafios.

    Além da resposta à pandemia de coronavírus, o democrata deverá comandar uma política de recuperação econômica para tentar desafogar o país que registrou uma queda de 32,9% no PIB no segundo trimestre – a situação já começou a melhorar, com um salto de 33,1% entre julho e setembro, mas não apaga o colapso deixado durante o início da crise.

    O recém-eleito presidente americano ainda terá que lidar com as ameaças de Donald Trump de iniciar um processo judicial contra o resultado da eleição, alegando que houve fraude causada pela grande votação pelo correio. Durante a campanha, o republicano chegou a dizer que não cederia ao poder caso desconfiasse de problemas no processo.

    Desde o início da corrida, Trump tentou desacreditar o voto pelo correio e dizer que o sistema poderia beneficiar os democratas por meio de fraudes eleitorais. Especialistas, e até os próprios estados, porém, negam que o sistema eleitoral seja suscetível a fraudes.

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    Biden, antecipando a batalha judicial, reuniu um “exército” de advogados que podem ajudá-lo na batalha na Justiça. Mas ainda há temores de que a transição de poder entre os dois governos seja marcada pelo caos.

    Projeto de governo

    A mensagem de Biden se articula em grande medida em associação com seu estilo moderado durante o governo de Obama, mas durante a campanha prometeu que como presidente adotará posturas mais progressistas nas áreas da mudança climática, justiça racial e alívio da dívida estudantil.

    Durante sua campanha, Biden apresentou um plano orçamentário de 3,5 trilhões de dólares iniciais, que ainda pode se ampliar e chegar a um total de 6 a 11 trilhões de dólares em uma década.

    Apesar de ser classificado como mais conservador que outros democratas – como o antigo adversário Bernie Sanders, que propunha um pacote de 16,3 trilhões de dólares somente para deter o aquecimento global –, seus planos para a próxima década incluem 2 trilhões de dólares para saúde, com a expansão do Affordable Care Act (Obamacare); 1,7 trilhão de dólares de investimento em energia limpa, para gerar empregos e zerar as emissões de carbono até 2030; 1,6 trilhão de dólares para a educação em todos os níveis; 500 bilhões de dólares em gastos com a Previdência Social; e muito mais.

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    O aumento das despesas é maior que os propostos pelos ex-candidatos democratas John Kerry, Barack Obama e Hillary Clinton juntos. Embora suas propostas sejam atraentes, economistas preocupam-se com as consequências dos gastos desenfreados. Para pagar pela farra monetária, a proposta é incrementar e criar novos impostos.

    Relações com o Brasil

    Os possíveis efeitos do resultado da eleição americana já estão sendo avaliados com lupa em Brasília. Aliado de primeira hora de Trump, de quem copiou diversas estratégias e estilo, o presidente Jair Bolsonaro pode vir a ser alvo de resistência do governo democrata, sobretudo em questões de meio ambiente e direitos humanos

    A análise das consequências para o Brasil no cenário de vitória de Biden perpassa duas trilhas, uma ideológica e a outra pragmática. No Planalto, cogita-se que as estrelas da direita na constelação ministerial — Ernesto Araújo, no Itamaraty, e Ricardo Salles, no Meio Ambiente — podem sair enfraquecidas.

    O fato inexorável é que a derrota de Trump terá, sem dúvida, um impacto na maneira como Bolsonaro se comporta em suas relações com o Congresso, STF, mídia, contas de Twitter e partidos políticos. Até recentemente, com uma leve repaginada nos últimos meses, ele seguia a tática de confronto do colega americano. Com a derrota desse modelo, e com a reeleição sempre em mente, é provável que ele tente erigir mais canais rumo ao centro. Não só aqui, como nos Estados Unidos. “Independentemente das eleições, trabalhamos sempre para construir pontes com importantes interlocutores dos dois partidos”, disse a VEJA o embaixador brasileiro em Washington, Nestor Forster Jr.

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    Para Deborah Vieitas, CEO da Amcham-Brasil, os interesses econômicos devem prevalecer, apesar da nova diferença ideológica. “Os requisitos para melhorar o relacionamento com o governo Biden são diferentes do que foram até então”, diz, lembrando que meio ambiente, estímulo a tecnologias sustentáveis na agricultura e uma política responsável em relação à segurança alimentar do mundo se tornarão primordiais.

    O Brasil tem ainda, além da relação com os Estados Unidos, uma parceria com a China para conduzir. Durante o governo de Donald Trump, Pequim e Washington intensificaram a troca de acusações e estiveram à beira de uma guerra comercial – que respingou, é claro, no Brasil.

    “Os americanos são nossos maiores investidores e não é desejável que o Brasil tome partido na briga entre Estados Unidos e China porque nossos interesses são maiores”, diz Vieitas. “Devemos desenvolver relações construtivas com ambos”.

    Carreira

    Biden entrou para a política nacional aos 29 anos, quando conseguiu uma surpreendente eleição como senador por Delaware em 1972. Mas apenas um mês depois uma tragédia abalou sua vida, quando sua primeira esposa, Neilia Hunter, e sua filha de um ano morreram em um acidente de carro quando saíram para comprar uma árvore de Natal.

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    Seus dois filhos ficaram gravemente feridos, mas sobreviveram ao acidente. O mais velho, Beau, morreu vítima de câncer em 2015. As tragédias ajudaram a cimentar a empatia com a opinião pública americana. Quando foi eleito pela primeira vez, era um dos senadores mais jovens no Capitólio, onde passou décadas antes de servir como vice na Casa Branca por oito anos.

    Antes de aceitar se tornar o número 2 da república norte-americana, Biden já havia concorrido duas vezes à indicação para representar o Partido Democrata nas urnas. Em 1988 era considerado um dos favoritos da legenda, mas perdeu apoio e foi obrigado a abandonar seu pleito após ser acusado de plagiar um discurso de campanha. Tentou novamente em 2008, mas foi derrotado justamente por Obama, que após a vitória o convidou para integrar sua chapa. Os dois democratas, aliás, se gabam de conservar uma amizade que vai muito além do trabalho e são frequentemente fotografados juntos.

    Os críticos e os próprios democratas questionaram durante a campanha a propensão de Joe Biden a gafes. Também apontaram em diversas ocasiões a falta de carisma do ex-senador.

    Donald Trump, inclusive, tentou explorar o tema e o chama de “Joe, o dorminhoco”. Também o acusa de sofrer uma deterioração cognitiva por sua idade. Nada disso, porém, foi suficiente para impedir sua vitória.

    Apesar de sua calma, não conseguiu escapar de alguns escândalos. No começo do ano foi acusado de assédio sexual por uma ex-assistente de sua equipe no Senado. A denúncia, porém, nunca foi para frente e o assunto logo esfriou.

    Não é o caso da polêmica envolvendo seu filho do meio, Hunter, e uma empresa multinacional de gás com sede da Ucrânia. Republicanos e apoiadores de Donald Trump acusam Biden de tentar barrar um processo por corrupção contra a companhia na qual seu filho trabalhava no país do leste europeu quando ainda estava na Casa Branca. As queixas nunca foram provadas e sua campanha tentou abafar ao máximo suas repercussões, mas seus adversários com certeza não parecem dispostos a esquecer o caso tão cedo. 

    “Quando um candidato está na liderança, sua campanha não deve se preocupar com carisma ou holofotes, e sim em conservar a imagem e posição”, diz Hans Hassell, cientista político e professor da Universidade do Estado da Flórida. “Biden permaneceu focado em não fazer besteira”.

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