Jornal venezuelano ‘El Nacional’ deixa de circular em versão impressa
Decisão se deve à repressão do governo de Nicolás Maduro, que nos últimos anos também controla a importação de papel jornal
O jornal venezuelano El Nacional publica sua última edição impressa nesta sexta-feira, 14, após 75 anos. Segundo o presidente da editora, Miguel Henrique Otero, a decisão de interromper a circulação teve que ser tomada após anos de repressão e censura do governo de Nicolás Maduro.
O El Nacional era o último impresso independente que ainda circulava no país. Apesar do fim da edição em papel, o jornal ainda mantém sua versão digital.
“Eles conseguiram silenciar as rádios e a televisão e fizeram desaparecer a mídia impressa independente, transformando-a em plataformas web”, afirmou Otero em entrevista ao jornal espanhol ABC.
Segundo o presidente, o chavismo vem ameaçando o grupo do El Nacional por diversas vias, entre elas agressões aos jornalistas encomendadas aos grupos civis armados que apoiam o regime de Maduro, processos judiciais, restrição aos anúncios publicitários e tributações em excesso.
Porém, o que de fato tornou impossível a circulação do jornal foi o controle de importação de papel-jornal.
“Duramos mais que os outros porque contamos com a solidariedade de outros jornais latino-americanos para continuar imprimindo, mas no final não conseguimos resistir”, lamentou Otero. No último mês, o El Nacional já não publicava suas edições de segunda-feira e sábado.
Em entrevista ao próprio El Nacional nesta sexta, o presidente garantiu que a decisão é apenas um parêntese na história do jornal e que espera que a versão impressa possa voltar a circular em breve.
“Os jornalistas continuarão a trabalhar, lutando para restaurar a democracia na Venezuela, e em breve retomaremos o jornal físico de uma maneira ou de outra”, disse Otero, que vive em exílio forçado há mais de quatro anos.
Desde que Nicolás Maduro chegou ao poder, em 2013, ao menos quarenta jornais fecharam as portas na Venezuela, segundo o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP).
Só no primeiro semestre de 2018, jornalistas e veículos de comunicação sofreram 113 agressões. No período, 24 jornalistas foram detidos e 87 atacados por “órgãos de segurança do Estado”, segundo o SNTP.