O jornalista brasileiro Leonardo Veras, assassinado por pistoleiros em Ponta Porã (MS) no início deste mês, investigava duas mortes atribuídas a um pistoleiro da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A informação foi divulgada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) nesta quinta-feira, 27.
Veras era bastante conhecido em Mato Grosso do Sul por noticiar situações relacionadas ao tráfico de drogas. Em seu portal Porã News, informou que policiais investigavam Genaro Lopes Martins, conhecido como “Animal do PCC”, como executor de dois crimes que seguem sem solução: a morte de Adolfo Gonçalves Camargo e o desaparecimento do comerciante Roney Fernandes Romeiro.
Dias antes dos incidentes, um carregamento com 30 quilos de cocaína foi apreendido pela polícia paraguaia. Há suspeita de que os traficantes atribuíram às vítimas a responsabilidade pela perda do contrabando. As mortes foram violentas. Além de sinais de tortura, os corpos de Camargo e de Romeiro foram esquartejados e queimados.
Veras associou o caso a um anterior, que havia apurado em novembro passado. Genaro Lopes Martins havia sido preso pelo assassinato de Alex Aquino, 14 anos, que também teve o corpo esquartejado e queimado. Depois de fazer a conexão, foi atacado em sua casa em Ponta Porã. O jornalista foi morto com doze tiros disparados por três homens encapuzados enquanto jantava com a família. Ele ainda tentou fugir pelo quintal.
Além disso, policiais paraguaios envolvidos na investigação apontam como um dos principais motivos para a morte de Veras a identificação do principal chefe do PCC na fronteira, o paraguaio Ederson Salinas Benitez, 32 anos, conhecido como Salinas Ryguaçu.
No sábado 12, foram presos dez suspeitos de envolvimento com o crime organizado, o tráfico de armas e assassinatos, entre os quais o de Veras.
Tim Lopes
Todos os indícios sugerem que a morte de Veras esteja relacionada ao exercício de sua profissão. Por isso, foi o terceiro assassinato a ser incluído no Programa Tim Lopes, desenvolvido pela Abraji e do qual VEJA faz parte, com o apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis.
Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Além do repórter da Rede Globo assassinado em junho de 2002, que dá seu nome ao programa, estão incluídas as mortes do radialista Jefferson Pureza, de 39 anos, em Edealina Goiás, janeiro de 2018, a mando do ex-vereador José Eduardo Alves da Silva, que teria pago 5.000 reais e fornecido um revólver.
Outro caso é o do radialista Jairo de Sousa, morto em 21 de junho de 2018, quando chegava para trabalhar na rádio Pérola FM, em Bragança, no Pará. O suspeito de ser o mandante é o vereador Cesar Monteiro., que teria contratado dez matadores de aluguel por 30.000 reais.