Jornalistas criam plataforma de combate às fake news na Venezuela
Circulação de notícias falsas pelo WhatsApp é ainda pior no país, onde Maduro usa a desinformação para manter-se no poder, diz Carmen Riera
A crise política aprofundada na Venezuela desde a eleição do presidente Nicolás Maduro, em 2018, tornou o país terreno fértil para a desinformação e as fake news. Esta é a avaliação de Carmen Riera, uma das principais jornalistas do país e responsável pelo Monitor de Vítimas, ferramenta que acompanha os casos de violência estatal no país.
Para lidar com o cenário em que o trabalho da imprensa é cerceado e a informação que circula não é de qualidade, Riera lidera um coletivo de grupos de jornalistas independentes que lança nesta sexta-feira, 3, um instrumento de combate à desinformação.
Intitulada Verifícalo (Verifique, em português), a plataforma será administrada por quatro portais de notícias (Efecto Cocuyo, Runrunes, TalCual e El Pitazo) que irão atuar onde mais circulam as fake news: no WhatsApp.
Desde que a atual crise na Venezuela foi deflagrada no último dia 30, quando o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó e o líder oposicionista Leopoldo López convocaram a população a ir às ruas, há um número ainda maior de mentiras circulando nas redes sociais, segundo Riera.
Há casos graves. Em meio aos protestos que ganharam as ruas de Caracas nesta semana, circulou a informação de que milícias ligadas a Nicolás Maduro estariam indo às portas dos colégios para recrutar menores de 15 anos para suas fileiras. A informação foi desmentida pelos portais de notícias, mas se espalhou feito rastilho de pólvora via WhatsApp.
“Recebi há pouco uma carta falsa atribuída a Leopoldo López. Houve também quem espalhasse um vídeo de Guaidó dançando em uma festa que teria ocorrido durante as manifestações de 1º de maio. É fato que o vídeo existe, mas é de outra ocasião, e está sendo usada agora”, exemplifica Riera.
De acordo com a jornalista, a penetração dos meios de comunicação digitais na Venezuela é restrita, em virtude das dificuldades de acesso às redes. E isso, ela argumenta, é mobilizado por Maduro como uma técnica para se manter no poder.
“O fenômeno da desinformação e das fake news é mundial, mas aqui é pior. Não há Lei de Acesso à Informação, não há dados públicos. O que existe é a censura, e Maduro sabe desse cenário, se aproveita disso para disseminar informações erradas em uma cruzada contra a democracia. ”, opina Riera.