Após mais de 10 horas de deliberações, divididas em dois dias, o júri chegou a um veredicto nesta terça-feira, 20, no julgamento do ex-policial Derek Chauvin pela morte de George Floyd. Ele foi condenado por homicídio culposo, homicídio de segundo grau (sem premeditação) e homicídio de terceiro grau (por comportamento irresponsável), os três crimes pelos quais era acusado.
A sentença final será anunciada em algumas semanas, mas ele pode pegar até 40 anos de prisão. Após ouvir a sentença, o ex-policial, que durante todo o processo se declarou inocente e preferiu não prestar depoimento, foi algemado e levado por seguranças.
Chauvin respondeu às acusações em liberdade após pagamento de 1 milhão de dólares de fiança. Seus advogados argumentavam que ele apenas obedeceu treinamentos policiais e que a causa principal da morte de Floyd, que o legista qualificou como um homicídio, foi uma overdose de droga.
A morte de Floyd, um homem negro de 46 anos, gerou indignação generalizada em maio passado, depois que um vídeo que capturou a abordagem do agente de segurança viralizou na internet, mostrando como Chauvin ajoelhou-se sobre o pescoço do suspeito durante mais de oito minutos. Desarmado, o ex-segurança detido sob a suspeita de ter utilizado uma nota de 20 dólares falsa repetiu “eu não consigo respirar” diversas vezes até perder a consciência.
O incidente gerou protestos em todo o país contra a violência policial e o racismo, visto que o agora ex-policial é branco. Segundo o jornal americano The New York Times, foi o maior movimento popular pelos direitos civis desde os anos 1960.
Júri
Em reparação à decisão, o tribunal foi cercado por barreiras de concreto e arame farpado, e milhares de guardas nacionais e outros policiais foram trazidos antes da sentença.
O júri, composto por seis pessoas brancas e seis pessoas negras ou multirraciais, avaliou as acusações de homicídio não intencional em segundo grau, homicídio em terceiro grau e homicídio em segundo grau, com condenações em algumas, nenhuma ou todas as acusações possíveis. A composição foi observada de perto pelo país e é, proporcionalmente, mais diversificada do que a cidade de Minneapolis, que é 20% negra. A acusação mais grave é de até 40 anos de prisão.
Existia a preocupação de que não fosse possível formar um júri imparcial para um caso que provocou inquietação em grande escala e repercutiu em todo o mundo. Possíveis jurados tiveram que responder um questionário de 14 páginas que perguntava suas opiniões sobre uma ampla gama de tópicos, incluindo os movimentos Black Lives Matter e Blue Lives Matter (o primeiro pelos direitos de negros, o segundo por direitos dos policiais) e se o sistema de justiça criminal é racialmente discriminatório.
A seleção do júri foi definida para durar três semanas, e os jurados que já haviam sido escolhidos tiveram que ser chamados e questionados novamente depois que a cidade anunciou um acordo de 27 milhões de dólares com a família de Floyd.
Durante o julgamento, o júri ouviu 45 testemunhas, incluindo transeuntes e especialistas, assistiu diversas vezes o vídeo do momento em que Floyd é detido e ouviu argumentos da acusação e da defesa, cada uma apresentando diferentes narrativas.
Telefonema de Biden
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, confirmou mais cedo em publicação no Twitter que o presidente americano, Joe Biden, conversou por telefone com parentes de Floyd na segunda-feira. Segundo a porta-voz, o presidente está acompanhando o julgamento de perto.
Biden, que chamou o caso de “esmagador”, disse: “Eles são uma boa família e estão clamando por paz e tranquilidade, não importa qual seja o veredicto”, disse o democrata. É incomum para um presidente opinar em nome de um resultado específico em um processo judicial.
“Ele sabe o que é perder um membro da família e conhece o processo pelo qual estamos passando. Ele só queria que nós soubéssemos que ele está rezando por nós, na esperança de que tudo acabe bem”, disse Philonise, irmão de George Floyd, em declarações à emissora americana NBC.
Na segunda-feira, Peter A. Cahill, o juiz do estado de Minnesota que está presidindo o caso, alertou os políticos para se absterem de comentar o resultado, depois que a deputada democrata Maxine Waters, da Califórnia, pediu a manifestantes que se mobilizassem em antecipação ao veredicto.
Cidades de todo o país se prepararam para protestos desde que o júri do julgamento entrou em seu segundo dia de deliberações nesta terça-feira.
Com a memória dos protestos do verão passado após a morte de George Floyd ainda fresca, alguns estados ordenaram que as tropas da Guarda Nacional ficassem de prontidão em antecipação a grandes protestos.