Depois de passar três semanas sumido e deixar o resto do planeta com a pulga atrás da orelha, eis que Kim Jong-un, o líder supremo da Coreia do Norte, reapareceu lépido e fagueiro inaugurando uma fábrica de fertilizantes na cidade de Sunchon, ao norte da capital, Pyongyang. Reapareceu, em termos: dele só há imagens divulgadas pela propaganda oficial, cortando a fita inaugural, proferindo pérolas de sabedoria (visto que os senhores em volta tomam nota sem parar) e confraternizando com umas poucas autoridades, sem sinal de público presente.
Na parede externa, um conspícuo painel crava a data — 1º de maio de 2020, para que ninguém fique pensando que se trata de armação. A rápida aparição não dissipou os rumores de que Kim estaria passando por algum problema, possivelmente de saúde, devidamente abafado por trás da barreira de sigilo que cerca tudo o que acontece dentro do último bastião socialista de raiz. Aventou-se até que ele fugia do novo coronavírus, embora, oficialmente, o microrganismo não tenha tido coragem de entrar no país. Nem todos cedem à especulação, porém. O presidente americano Donald Trump, que engatou ótimas relações com o ditador norte-coreano na época em que os dois tentavam negociar um acordo nuclear (que deu em nada), primeiro declarou, quando todo mundo se perguntava onde estava Kim, que tinha “uma boa ideia” do paradeiro do corpulento líder. Depois, quando surgiram as imagens de seu reaparecimento, foi ao Twitter comemorar: “Fico feliz que ele esteja de volta e bem”. Combinado, então.
Publicado em VEJA de 13 de maio de 2020, edição nº 2686