Em um ambiente de enorme euforia e muitas lágrimas (para os norte-coreanos, é quase obrigação chorar quando veem seu líder supremo), Kim Jong-un celebrou o bem-sucedido teste de lançamento do maior míssil balístico intercontinental já construído no país, o Hwasong-17, de 26 metros de comprimento. Difícil alguma coisa ofuscar feito tão momentoso, mas aconteceu: para surpresa geral da nação e do mundo. Kim desfilou pela base aérea e posou na frente do míssil com uma menina de rabo de cavalo e sapatinhos vermelhos, de mais ou menos 10 anos, que a imprensa depois confirmou ser sua filha, supostamente chamada Ju-ae. Sob o manto de segredo que envolve a primeiríssima-família, sabe-se que Kim e sua mulher, a ex-cantora Ri Sol-ju, têm três filhos. Ri estava grávida em 2012. O ex-jogador de basquete americano Dennis Rodman, amigo do peito do ditador, relatou após uma visita em 2013 ter pegado no colo uma filhinha de meses do casal chamada Ju-ae. Juntando-se os pontos, conclui-se que é a mesma agora orgulhosamente exibida por papai. Como o querido e respeitado marechal (outro de seus títulos) não dá ponto sem nó, algum simbolismo há de ter no gesto — segundo especialistas, ele quis mostrar que o projeto armamentista nacional não esmorece e atravessará gerações. Em teoria, o Hwasong-17 é capaz de alcançar qualquer cidade dos Estados Unidos. “Vamos responder às armas atômicas com armas atômicas”, prometeu após o teste. O futuro, para a Coreia do Norte, será explosivo.
Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817