Maria Kolesnikova, uma das líderes do movimento de oposição ao presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, foi detida nesta segunda-feira, 7, por homens encapuzados que não tinham nenhuma identificação à mostra, segundo testemunhas que presenciaram o ato.
A prisão de Kolesnikova ocorre no dia seguinte a mais uma das manifestações que pedem a saída de Lukashenko da Presidência, que ocupa há mais de 20 anos. No domingo, 633 manifestantes foram detidos na capital, Minsk.
Outra proeminente figura da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, em auto-exílio na Lituânia, acusou as autoridades bielorrussas e disse que elas praticam uma política de “terror”. Svetlana concorreu contra Lukashenko nas eleições, no mês passado, e acusa o governo de fraude.
“Estão equivocadas se pensam que isto vai nos parar. Quanto mais intimidam, mais as pessoas sairão às ruas”, disse.
Desde a noite da eleição, no dia 9 de agosto, a ex-república soviética se tornou um constante palco de manifestações contra o resultado do pleito. Logo após a ida às urnas, o país de 9 milhões de habitantes viu a maior manifestação da oposição em sua história, com milhares de pessoas nas ruas da capital.
Lukashenko, por sua vez, cita um plano apoiado por potências estrangeiras para desestabilizar a Bielorrússia. Ele afirma que os manifestantes são criminosos e desempregados.
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Clique e AssinePeter Stano, porta-voz da Comissão Europeia, denunciou como “inaceitável a repressão contínua das autoridades contra a população civil, os manifestantes pacíficos e os militantes políticos”.
Das três líderes que compõe o Conselho de Coordenação, grupo que deseja preparar o caminho para uma transição política no país, somente Kolesnikova estava em Belarus. Além de Svetlana Tikhanovskaya, Olga Kovalkova anunciou no sábado 6 que viajou à Polônia depois de receber ameaças do serviço de inteligência de Belarus.
O Ministério do Interior informou não ter informações sobre a detenção de Kolesnikova.
No domingo, mais de 100.000 pessoas atenderam aos chamados para se manifestarem em Minsk contra o presidente. Desta vez, o aparato policial foi maior, com centenas de prisões e acusações de que agentes à paisana estavam agredindo manifestantes.
Ao menos três pessoas morreram nas manifestações e mais de 7.000 foram detidas, sobretudo nos primeiros dias após as eleições. Os detidos descreveram maus-tratos e torturas durante o período que passaram na prisão.
Apesar de disposto a compartilhar o poder com outras lideranças políticas, para o presidente, novas eleições não vão ocorrer “até que me matem”. Segundo a agência estatal de notícias Belta, Lukashenko anunciou em meados de agosto que poderia entregar o poder após um referendo sobre possíveis mudanças na Constituição. Segundo ele, as mudanças já estão em andamento, mas não aconteceram sob pressão.
Em 2001, na primeira reeleição de Lukashenko, a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), entidade internacional que fiscaliza eleições no continente europeu. denunciou “falhas fundamentais” no processo eleitoral, entre elas censura da mídia. A Bielorrússia ocupa a 153ª posição, entre 180 países, no ranking de liberdade de imprensa feito pela organização Repórteres sem Fronteiras.
Casos de intimidação a opositores e de bloqueios arbitrários de candidaturas já aconteciam em 2001, segundo a OSCE. Nas últimas eleições parlamentares, em 2019, fiscais da OSCE relataram urnas fraudadas e, em alguns casos, foram explicitamente impedidos de checá-las. Na ocasião, todos os 110 assentos da câmara baixa do Parlamento foram conquistados por apoiadores de Lukashenko.