O líder de uma das gangues por trás da onda de violência que acossa Porto Príncipe, a capital haitiana, ameaçou nesta quarta-feira, 6, começar uma “guerra civil” no país caso do primeiro-ministro, Ariel Henry, não renuncie ao cargo.
“Se Ariel Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar a apoiá-lo, caminhamos para uma guerra civil que levará ao genocídio”, disse Jimmy “Barbecue” Chérizier a repórteres no Haiti.
“Ou o Haiti se torna um paraíso para todos nós, ou um inferno para todos nós”, completou.
Sua declaração ocorreu ao passo que membros da poderosa aliança de gangues G9, que ele lidera, tomaram o aeroporto de Porto Príncipe, na tentativa de impedir Henry de retornar do exterior. O primeiro-ministro desembarcou na terça-feira 5 em Porto Rico, após passar vários dias em local não divulgado.
Revolta
A aliança G9 desencadeou uma onda de violência no Haiti após atacar duas das principais prisões do país e libertar milhares de detentos no sábado 2, além de arquitetar ataques à polícia.
Enquanto o primeiro-ministro Henry visitava o Quênia na semana passada, Chérizier intensificou a violência. O objetivo da viagem era chegar a um acordo para que o governo queniano liderasse uma operação policial multinacional para reprimir a violência no Haiti.
Segundo a mídia haitiana, Henry está buscando rotas alternativas para voltar ao país. Ele planejava pousar na capital , mas o aeroporto permaneceu fechado devido a ataques nas proximidades. Na noite de terça-feira, o premiê desembarcou no território americano de Porto Rico.
Chérizier, um ex-policial de 46 anos, se opõe ao governo de Henry desde que ele assumiu o poder sem a realização de eleições, após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021. A oposição ao primeiro-ministro também alega que seu governo é ilegítimo porque não realizou eleições, como havia prometido, depois de passar dois anos no poder.
Domínio das gangues
Os grupos armados controlam áreas inteiras do Haiti, incluindo a 80% de Porto Príncipe, e atuam de forma violenta há anos. Apesar da violência se concentrar principalmente na capital e seus arredores, também houve relatos de tiroteios na cidade de Jeremie, no sudoeste do país, e de um motim numa prisão em Jacmel, no sul.
O país não realiza eleições desde 2016, gerando uma falta de representatividade que também abriu espaço para o domínio das gangues. Segundo as Nações Unidas, cerca de 15 mil pessoas foram deslocadas pelo conflito. Sequestros para extorsão se tornaram comuns, além de muitas escolas e hospitais terem fechado devido à falta de segurança.
O objetivo a longo prazo das gangues não ficou claro, mas Chérizier anteriormente sugeriu a criação de um “conselho de anciãos”, um grupo de representantes da sociedade civil de diferentes regiões, para substituir o primeiro-ministro.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas disse que vai realizar uma reunião de emergência nesta quarta-feira para discutir a violência no Haiti.