New York Times compara Bolsonaro a Trump, Sisi e Erdogan: ‘Pensam igual’
Jornal americano aponta semelhanças nos discursos explosivos, opiniões sobre mudança climática e ataques à liberdade de imprensa
Em um artigo sobre a Assembleia-Geral das Nações Unidas, que começa nesta terça-feira, 24, em Nova York, o jornal The New York Times comparou o presidente Jair Bolsonaro a outros líderes mundiais que “pensam igual” a ele: o americano Donald Trump, o egípcio Abdel Fattah al Sisi e o turco Recep Tayyip Erdogan.
A reportagem, que apresenta Trump como um líder conhecido por seus discursos diplomáticos explosivos e alarmistas, afirma que no evento deste ano o presidente dos Estados Unidos estará cercado de “companhias” que se comportam e pensam de forma semelhante a ele.
O americano discursará logo depois de Bolsonaro, que abrirá o evento. É tradição que o presidente brasileiro seja o primeiro a discursar todos os anos na Assembleia-Geral.
“Trump será precedido pelo presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, às vezes chamado de mini-Trump, uma figura polarizadora em seu país que, como Trump, nega os temores sobre mudanças climáticas e ridiculariza críticos no Twitter”, diz o NYT.
Logo após o discurso do líder americano será a vez de Abdel Fattah al Sisi, do Egito. O ex-chefe das Forças Armadas que assumiu o cargo de presidente após uma onda de protestos e um golpe contra o então presidente, Mohamed Mursi, comanda o país com estilo autoritário. Manifestações são duramente reprimidas e líderes políticos opositores, jornalistas e ativistas muitas vezes são presos injustamente e até mortos pelas forças de segurança.
Segundo o Times, al Sisi simboliza a “repressão das revoluções da Primavera Árabe”. Sua presença na Assembleia, contudo, ainda não está totalmente confirmada depois que raros protestos contra seu governo tomaram as ruas das principais cidades do país neste final de semana. Ao menos 74 pessoas foram presas.
“Depois vem o presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, um autocrata que intimidou seus críticos e cujo governo é o principal carcereiro de jornalistas”, completa o Times, sobre o líder turco que discursará depois do representante egípcio.
Desde uma tentativa de golpe de Estado em 2016, milhares de pessoas foram presas pelo regime de Erdogan e centenas de milhares perderam seus empregos públicos acusadas de envolvimento na trama, muitas vezes sem qualquer tipo de prova. Muitos jornalistas também foram incriminados e jornais e veículos de comunicação foram fechados.
Bolsonaro viaja nesta segunda-feira, 23, para Nova York para participar do evento da ONU. A questão ambiental deve ser o centro do discurso do presidente.
Sinalizando essa direção, o Planalto incluiu na comitiva Ysani Kalapalo, moradora de uma aldeia no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, que é simpatizante das ações do governo na Amazônia – ao contrário de outros representantes indígenas, como o cacique Raoni.
Mesmo em recuperação após cirurgia para retirada de uma hérnia abdominal – provocada pela facada que sofreu na campanha eleitoral de 2018 – o presidente teve liberação médica para embarcar. De acordo com sua agenda oficial, Bolsonaro partiu de Brasília com destino a Nova York às 7h e desembarca durante a tarde na cidade americana.
Em live nas redes sociais na última semana, Bolsonaro prometeu promete fazer uma apresentação “bastante objetiva, diferente de outros presidentes” que o antecederam. “Ninguém vai brigar com ninguém lá, podem ficar tranquilos”, disse.
“Tá na cara que eu vou ser cobrado, porque alguns países me atacam, de uma maneira bastante virulenta, dizem que eu sou o responsável pelas queimadas aí pelo Brasil. Nós sabemos, pelos dados oficiais, que queimada tem todo o ano, infelizmente. Quer que faça o que? Tem”, disse o presidente.
De acordo com o Itamaraty, ainda não está na agenda oficial um jantar com o presidente americano, Donald Trump, anunciado por Bolsonaro. O americano receberá chefes de Estado em um jantar na noite desta segunda.