Os nomes de 14 líderes mundiais foram encontrados na lista dos donos dos 50.000 números de telefone possivelmente espionados com o software israelense Pegasus, usado para rastrear criminosos e terroristas. Entre eles, estão três presidentes em exercício: o francês, Emmanuel Macron, o iraquiano, Barham Salih, e o sul-africano Cyril Ramaphosa. O nome do rei do Marrocos, Mohammed VI, também estava na lista.
Pelo que indica a investigação, feita pelo jornal americano The Washington Post e outros 16 veículos de comunicação com a ajuda da Anistia Internacional e da ONG francesa Forbidden Stories, o número do celular de Macron foi adicionado a lista um pouco antes dele fazer uma viagem para a África, com escalas no Quênia e na Etiópia. Os smartphones de 14 ministros franceses também foram adicionados na mesma época.
De acordo com autoridades próximas ao presidente, ele tinha um smartphone para uso pessoal e dois para assuntos mais delicados, que são altamente seguros. Também é de costume de Macron compartilhar o seu número com jornalistas e associados, porém ele nunca usa esses telefones para questões confidenciais. Com medo de espionagem e roubo de dados, o presidente utiliza linhas fixas e criptografadas para estes casos. A promotoria de Paris anunciou que está investigando o caso.
A AI e a Forbidden Stories tiveram acesso a uma lista de mais de 50.000 números de telefone que teriam sido monitoradas pela empresa israelense NSO por meio do software Pegasus e os compartilharam com a imprensa. Não ficou claro de onde veio essa lista — ou quantos telefones foram realmente hackeados.
Por meio dos números de telefone, porém, os veículos da imprensa conseguiram identificar alguns dos possíveis candidatos para vigilância. Três primeiros-ministros atuais e sete ex primeiro-ministros também estão na lista. Imran Khan do Paquistão, Mostafa Madbouly do Egito, Saad-Eddine El Othmani do Marrocos, Saad Hariri do Líbano, Ruhakana Rugunda de Uganda, Charles Michel da Bélgica, Alain-Guillaume Bunyoni do Burundi, Askar Mamin do Cazaquistão e Romano Prodi da Itália.
Diplomatas e embaixadores das Nações Unidas também estavam sendo espionados, e alguns celulares de familiares e amigos de autoridades foram relatados, como aconteceu com pessoas próximas ao presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador. Foram adicionados à lista durante as eleições de 2018 os telefones de sua esposa, filhos, assessores, motorista pessoal e até mesmo do seu cardiologista.
Mais de 15.000 números de telefone mexicanos estão no índice, incluindo o do ex-presidente Felipe Calderón. A empresa israelense NSO, que desenvolveu o Pegasus, chegou a suspender o uso de agências mexicanas nos últimos anos. A companhia, que tem 60 clientes de agências governamentais em 40 países, afirma que os alvos do software deveriam ser terroristas e criminosos, como pedófilos, traficantes de drogas e traficantes de seres humanos, e que proíbe especificamente visar cidadãos cumpridores da lei, como funcionários do governo que realizam seus negócios normais.
A análise foi feita por meio de registros públicos, contatos de jornalistas e consultas a funcionários do governo ou pessoas próximas dos alvos em potencial, mas não foi possível determinar se as linhas são ativas ou antigas.
Ruanda, Marrocos e Índia emitiram declarações oficiais negando envolvimento na espionagem de jornalistas e políticos.