O atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, “tem zero chances” de vencer uma eleição justa e inspecionada pelos Estados Unidos em caso de aceitar a transição democrática, afirmou o representante do Departamento de Estado destacado para lidar com a atual situação venezuelana, Elliott Abrams, em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 2.
“Analisamos pesquisas de opinião que mostram que Nicolás Maduro tem entre 12 e 15% de apoio no país”, afirmou Abrams. “Acreditamos que em uma eleição livre ele tem chances zero de ganhar, e é por isso que o secretário [de Estado] Mike Pompeu disse que ele não governará a Venezuela novamente”.
O diplomata americano participou de uma coletiva de imprensa por telefone nesta quinta com jornalistas de toda as Américas, na qual tirou dúvidas sobre o plano de transição política para a Venezuela apresentado pelos Estados Unidos na terça-feira 31. O “Marco Democrático para a Venezuela” proposto por Trump consiste em garantir que tanto Maduro como Juan Guaidó, o presidente interino reconhecido por cerca de 50 países, “afastem-se” para que o Parlamento nomeie um Conselho de Governo de transição, que se encarregaria de organizar eleições presidenciais dentro de seis a oito meses.
Segundo Abrams, o Conselho será composto por dois representantes do regime chavista e dois da oposição. Um presidente interino deverá ser nomeado, e quem quer que seja o escolhido não poderá concorrer nas eleições gerais. “Em uma situação frágil como a da Venezuela, ninguém iria acreditar que seria justo alguém comandar o governo e também ser candidato”, diz.
O plano anunciado pelos americanos foi imediatamente rejeitado por Maduro. Em um comunicado, o ministro de Relações Exteriores, Jorge Arreaza, afirmou que o país “não aceita nem aceitará jamais qualquer tutela de nenhum governo estrangeiro”.
Pelo Twitter, Maduro afirmou que os Estados Unidos tentaram desviar a atenção da imprensa internacional da crise que o país vive por conta da pandemia de coronavírus ao anunciar seu plano para a Venezuela. “Mas não puderam nem poderão!”, escreveu o presidente. “Estamos em paz!”.
“A rejeição imediata por Maduro era previsível, já imaginávamos que ia acontecer”, afirmou Elliott Abrams nesta terça. “O que realmente importa para nós não é o que eles dizem em público, mas o que acontece no ambiente privado, dentro do governo, dentro do Exército e do partido chavista”.
O diplomata acredita que o desespero com a atual crise econômica e social vivida pela Venezuela, somado à esperança despertada pelo plano americano, pode provocar algum tipo de reação popular entre os cidadãos, o que significa mais pressão sobre o regime. O momento atual, em que o país vê o número de casos de coronavírus em seu território crescer, também pode ter sido escolhido de forma estratégica pelo governo americano.
O Brasil apoiou o plano. A administração de Jair Bolsonaro indicou “sua coincidência com os objetivos da proposta e que a apoia como instrumento capaz de contribuir para o restabelecimento da democracia na Venezuela”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
Navios de combate
Na quarta-feira 1, o presidente Donald Trump anunciou que enviará navios da Marinha em direção à Venezuela para reforçar operações de combate ao narcotráfico no Caribe. No final de março, o Departamento de Justiça americano apresentou acusações criminais por tráfico de drogas contra Maduro e outras autoridades venezuelanas.
Serão enviados navios de guerra da Marinha, aeronaves de vigilância e equipes de forças especiais. Isso representa quase o dobro de agentes antinarcóticos dos Estados Unidos no Hemisfério Ocidental, que hoje têm forças que operam no Caribe e no Pacífico oriental. A missão será apoiada por 22 países parceiros.
Questionado se o aparelho militar americano poderia ser usado pelos americanos para outros fins, além de barrar o narcotráfico no Caribe, Abrams afirmou que Washington defende uma “abertura política democrática e pacífica na Venezuela”.
“Você está perguntando se esses reforços podem ser usados de formas diferentes? Eu suponho que a resposta teórica seria claro, eles poderiam ser usado de uma variedade de formas”, disse. “Mas, eles estão lá para interditar a grande quantidade de drogas que são transportadas para o nosso país, em muitos casos com a colaboração do regime”.
O diplomata afirmou ainda que não espera nenhum tipo de resposta militar da Venezuela para a missão americana. “Eles são inteligentes demais para entrar em confronto com os Estados Unidos”, disse.